Guido Mantega garante que a política cambial do governo é a mesma e que cotação da moeda se manterá sem grandes flutuações. A divisa fechou a R$ 1,989 para venda. Analistas já começam a falar em taxa de R$ 1,90
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, mandou ontem um recado para quem aposta na queda do dólar: "Não esperem que o câmbio venha a derreter". Apesar de a divisa estar, nos últimos dias, abaixo dos R$ 2, ele garantiu que não há mudança na política cambial do governo. "Ela é a mesma e não permitirá uma valorização especulativa do real. Aviso aos navegantes: isso veio para ficar. Não se entusiasmem, porque isso (a desvalorização da moeda norte-americana) não vai acontecer", ressaltou.
"Desde que ele (o câmbio) varie dentro de um patamar que mantenha a competitividade da indústria e das exportações, pode flutuar. Essa é a política que estamos praticando", completou Mantega, após participar do último dia do Encontro Nacional dos Novos Prefeitos e Prefeitas. O dólar fechou ontem cotado a
R$ 1,989, alta de 0,21% ante o valor de terça-feira. O ministro assegurou ainda que a desvalorização da moeda norte-americana não será usada como nova ferramenta da política do governo para conter a inflação.
Mas essa não foi a percepção do mercado. Logo após as declarações, a divisa norte-americana — que fechou anteontem abaixo de R$ 2 — chegou a ficar acima desse patamar, mas por pouco tempo. O Banco Central, chefiado por Alexandre Tombini, entrou em campo e fez nova intervenção ao anunciar que renegociará contratos no valor de US$ 1,23 bilhão que vençam no fim da semana — ou seja, a autoridade monetária venderá essa soma em dólares. No entendimento de economistas, o governo quer manter o dólar em um novo piso informal.
Há quem aposte, inclusive, que a cotação vá ficar em torno de R$ 1,90. "O BC está usando o câmbio como instrumento de política monetária", analisou Paulo Petrassi, sócio-gestor da Leme Investimentos à Reuters. "Acredito que ele deve ficar mais acomodado entre R$ 1,96 e R$ 2 — um nível que já dá uma contribuição para a inflação e, ao mesmo tempo, não tira a competitividade" da indústria.
Intervenções
O chefe da Fazenda, no entanto, fez questão de negar que o dólar está sendo utilizado como ferramenta para segurar a inflação. "Os únicos instrumentos de política monetária para baixar preço são o juro e outros mecanismos que o Banco Central pratica." Mantega reconheceu que, no ano passado, a carestia teria sido menor se não fosse o impacto do câmbio. "Tivemos 20% de desvalorização do real e isso afetou a inflação. Digamos que 0,4 ou 0,5 ponto percentual da taxa de 5,8% se deve à elevação da moeda. A inflação, na verdade, seria de 5,2% a 5,3%", afirmou.
Na avaliação do ministro, "o dólar caminha para um patamar mais equilibrado, espontaneamente, com menos intervenções do governo". Para ele, essa flutuação da moeda é normal, por enquanto. "O que interessa é que o câmbio tenha estabilidade e que não haja com muita volatilidade, porque isso atrapalha o exportador. Se observamos, nos últimos seis meses, houve uma estabilidade no câmbio, mas isso não significa que ele fique fixo", disse o ministro, para logo depois completar que o governo poderá intervir sempre que for necessário.