Depois de oito quedas seguidas, quando acumulou uma perda de 10,48% até o dia 17 de maio, o Índice Bovespa pode finalmente ter entrado em um período de trégua nesse movimento, como mostram os gráficos. O indicador tocou em um piso que o analista técnico do MyCAP, home broker da corretora ICAP, Raphael Figueredo, considera "extremamente forte".
Para o especialista, a linha entre 54 mil e 53 mil pontos tem origem em 2008, passa por todo o fundo do gráfico e ficou evidente em agosto de 2011. "Essa região pode dar sustentação e ditar uma possível pausa para essa sequência de quedas."
A volatilidade, no entanto, torna muito difícil o estabelecimento de uma tendência geral para a bolsa no momento. A inclinação pronunciada da curva do índice, resultado da queda brusca, compromete o controle de risco na análise gráfica. Segundo Figueiredo, "o mercado perde referência quando a gente vê esses movimentos sucessivos de queda".
O vencimento de opções nesta segunda-feira e o cenário externo conturbado devem reforçar a instabilidade no mercado acionário nos próximos dias. "Essa combinação pode resultar em um ambiente complicado no intraday e desse modo o risco é até perder esses pisos", diz o analista da MyCAP. Nessa situação, segundo ele, os próximos suportes para o Ibovespa seriam 51.900 e, depois, 49.430 pontos.
Se o índice se segurar no piso acima de 53 mil pontos, pode haver um movimento de repique em que a primeira resistência estaria no patamar de 55 mil pontos. Depois o mercado testaria os 56.290. Figueiredo acredita que apenas aos 57 mil pontos será possível estabelecer novamente com segurança a tendência do mercado. "Nessa região vai haver consistência para saber se a alta pode se manter ou se é "levanta pra bater", ou seja, subiu para voltar a cair", afirma.
O analista técnico da Gradual Investimentos, Marcio Noronha, também chama a atenção para o piso de referência citado por Figueiredo. "O mercado entrou em tendência de baixa e está no rumo de testar um suporte muito importante, dos 52.600 pontos".
Na avaliação de Noronha, se o índice romper esse suporte, vai testar outro, também relevante, que é o fundo de agosto de 2011, de 47.793 pontos. "Caso seja rompido, a queda vai levar o Ibovespa para a casa dos 35 mil pontos e, talvez, até 29 mil pontos", alerta o analista.
Foi o que ocorreu em outubro de 2008, durante o auge da crise imobiliária nos Estados Unidos. "Naquela época houve uma fuga maciça de capital estrangeiro. Agora a situação é mais difusa", diz o analista da Gradual.
Segundo Noronha, em caso de o índice não romper o suporte dos 52.600 pontos pode haver um repique. "Nessa situação, a bolsa pode voltar aos 60 mil pontos, mas depois volta a cair."
Para Eduardo Matsura, analista técnica da corretora Souza Barros, o investidor pessoa física não deve se iludir com eventuais repiques da bolsa nos próximos dias, porque o viés para o Ibovespa, apesar da reação de sexta-feira, permanece negativo no curto prazo. "Embora muitas ações estejam com preços até atrativos, não é hora de comprar, porque o mercado vai permanecer muito volátil com forte pressão vendedora nas próximas semanas", afirma o especialista.
Matsura ressalta que uma queda semanal tão expressiva do índice não era vista desde agosto do ano passado, quando tombou 9,99% por conta de recrudescimento da crise da dívida grega. Em 2010, o maior recuo semanal se deu em maio (queda de 6,90%), também em meio a aversão ao risco provocada pelos problemas na Grécia.
"As três quedas tiveram a mesma causa e, logo após esse tombo semanal, o Ibovespa foi buscar a mínima do ano", afirma o analista. "É um padrão forte que pode se repetir este ano", alerta.
De fato, o Ibovespa caiu 9,99% na primeira semana de agosto de 2011 e, logo no pregão seguinte, desceu até os 48.688 pontos, que viriam a ser a pontuação mínima do índice naquele ano. "Esse nível de 48 mil pontos, o mais baixo do ano passado, é o novo suporte para o Ibovespa", diz Matsura, para quem o índice entrou em tendência de baixa ao romper o "importante suporte" de 55 mil pontos na semana passada.