Depois de uma sequência de baixas e mínimas históricas, as taxas de juros futuros tiveram um pregão de alta na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F).A percepção é de que aconteceu uma natural realização de lucros, nada que mude o viés de baixa do mercado.
As taxas estão em firme trajetória de queda conforme a inflação surpreende para baixo.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março foi de 0,21%, e a inflação oficial encerrou o primeiro trimestre em 1,22%, metade da registrada em 2011.
Segundo o sócio da Platina Investimentos, Marco Franklin, as surpresas positivas com o comportamento da inflação devem continuar no curto prazo.
Pelos cálculos do especialista, o IPCA acumulado em 12 meses deve "piscar" abaixo dos 5% antes do previsto. Pode ser que isso se verifique em abril ou maio. A previsão anterior era para agosto. Em março, o índice era de 5,24%.
"Mas isso não significa que dá para declarar vitória sobre a inflação neste ano ou no próximo ano", pondera o especialista.
De acordo com Franklin, o que pode atrapalhar a dinâmica positiva dos preços no último quadrimestre do ano é o efeito da entressafra sobre o preço dos alimentos.
A entressafra é evento corriqueiro, mas, no ano passado, não foi um "problema" para a inflação, conforme a base de comparação dos preços agrícolas no período de safra estava bastante elevada.
Em 2011, a média dos preços agrícolas entre a safra e a entressafra foi negativa, evento pouco usual que não deve se repetir agora em 2012. "O mercado está mais apertado do que se supunha. Eventos climáticos, como o La Niña, resultaram em quebras relevantes de safra. Fora isso, a valorização do dólar estimula o produtor a vender toda a produção e não formar estoques", diz.
Outro fator que estimula a venda e pode até limitar a produção da próxima safra é o comportamento de algumas commodities agrícolas, que mostram o preço à vista acima dos negociados no mercado futuro.
"Eu sou um cara otimista com a inflação e o resultado está me surpreendendo. Mas vejo riscos no radar vindos dos preços agrícolas em função da entressafra", explica Franklin. Por isso mesmo, o especialista acha um tanto precipitada a discussão que tomou conta das mesas de operação sobre o possibilidade de o Banco Central (BC) levar a Selic para baixo dos 9%.
Os contratos curtos de juros mostram corte de 0,75 ponto percentual no encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) da próxima semana e uma redução residual na reunião de maio.
O estudo feito por Franklin tem duas premissas. A falta de eventos climáticos, que colocariam os preços para cima, e um cenário externo sem grande piora ou ruptura.
No câmbio, o pregão foi morno, mas a leve alta de 0,11% no preço do dólar comercial colocou o preço da moeda no maior patamar desde o começo de janeiro: R$ 1,835.
No mercado futuro, o dólar para maio subiu 0,08%, para R$ 1,8435, antes do ajuste final.
A análise gráfica continua apontando taxa ao redor de R$ 1,844 e R$ 1,845 como gatilho para nova onda compradora de moeda americana.
Chamou atenção a atuação do BC no mercado à vista. Depois de um hiato de quatro dias, a autoridade monetária comprou dólares a R$ 1,8334, mas a atuação não teve impacto nos preços.