A estratégia do Banco Central de cortar ainda mais os juros pode esbarrar na alta da inflação. Depois da divulgação dos últimos indicadores, o processo de corte da taxa básica da economia (Selic) pode estar comprometido. Ontem, a primeira prévia de maio do Índice Geral de Preços Mercado (IGP-M) registrou 0,89% de alta e reforçou o movimento que o indicador oficial de carestia, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), já indicava na quarta-feira: a inflação voltou a subir. O presidente do BC, Alexandre Tombini, tratou logo de esfriar as tensões. Ontem, durante o Seminário de Metas para a Inflação, no Rio de Janeiro, calculou que a inflação dos próximos três meses deve ser menor do que a de abril.
"A inflação, em março, veio abaixo de nossa expectativa. Em abril, veio acima", disse Tombini. "Nós estamos em um processo de convergência da inflação. No pico, em setembro do ano passado, foi 7,31% (no acumulado de 12 meses). Desde lá caiu mais de dois pontos", argumentou. Segundo ele, esse número deve continuar em queda nos próximos meses.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, saiu em defesa do BC e afirmou que o mais preocupante não é o cenário doméstico, mas a crise na Europa. "Houve uma elevação da inflação em relação ao mês anterior, porém ele foi inferior ao mesmo período do ano passado. Portanto, nós continuamos com uma inflação muito menor do que a do ano passado", disse ele lembrando que o cigarro — que sofreu aumento dos impostos para compensar a desoneração do plano Brasil Maior — foi o grande vilão, com alta de 15%. "Ela (a inflação) vai continuar com uma trajetória menor do que o ano passado", garantiu.
Ainda na avaliação do ministro, o que preocupa não é o cenário doméstico, mas o externo. "Os países europeus estão se defrontando com um agravamento da crise que eles não conseguiram resolver. A estratégia de só fazer ajuste fiscal, de cortar gasto e despedir pessoa e reduzir salário, não funciona. Eles estão se deparando com essa dura realidade que, aliás, já derrubou vários presidentes e primeiros-ministros. Eles vão ter que rever essa estratégia", disse. Para especialistas, a crise preocupa do ponto de vista do crescimento e das exportações, mas contribui com a política monetária já que promove uma redução nos preços das commodities.