Os juros futuros foram à estratosfera na BM&F; no pregão de sexta-feira e delinearam um quadro de aperto monetário muito mais duro do que o esperado por economistas. Com a disparada das taxas dos principais contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (DI), caiu por terra a convicção das tesourarias de que a taxa básica de juros (Selic) não chegaria a dois dígitos ainda este ano. Tomando por base o fechamento de sexta-feira, os juros futuros refletem a perspectiva de que a Selic supere 11% até dezembro, segundo cálculos de especialistas.
Também começa a ser abalada a aposta de que o Comitê de Política Monetária (Copom) manterá o ritmo de aperto monetário em seu encontro no fim deste mês (dias 27 e 28), promovendo uma alta de 0,50 ponto da taxa básica, para 9% ao ano. Os juros futuros já mostram 35% de chance de que o Copom acelere o passo e eleve a Selic em 0,75 ponto, para 9,25% ao ano. O derivativo com vencimento em janeiro de 2014 - que reflete as expectativas dos juros daqui até o fim do ano - subiu quase 20 pontos-base (0,20 ponto percentual) na sexta-feira, fechando a 9,20%.
Segundo o economista do Deutsche Bank no Brasil, José Carlos de Faria, o nível dos juros futuros sugere que o Copom deve manter o aperto monetário até, pelo menos, o fim deste ano. "Mas o que o mercado está precificando [Selic acima de 11%] ainda parece excessivo à luz da fraqueza da economia, que pode ser agravada pela volatilidade atual, apesar do efeito positivo do real mais fraco sobre as exportações", disse Faria, em relatório. De fato, especialistas alertam que é cedo para concluir que a alta dos juros futuros seja uma aposta convicta em um voo da taxa básica até dois dígitos. Contudo, dado o avanço contínuo da taxa do DI com vencimento em janeiro de 2014, que saltou quase 0,30 ponto percentual este mês, fica evidente que há uma expectativa de Selic mais gorda. A alta do dólar, que se aproxima de R$ 2,40, em meio a uma valorização global da moeda americana, pressiona a inflação e, por tabela, os juros. Tanto a depreciação do real quanto o avanço das taxas dos principais contratos futuros têm, como pano de fundo, o realinhamento de preços de ativos em todo o mundo. O retorno dos títulos do Tesouro americano de 10 anos encerrou a sexta-feira a 2,824%, maior nível de fechamento desde julho de 2011. É grande a expectativa de que o Federal Reserve (Fed, o BC americano) comece a reduzir o volume mensal de compra de ativos, hoje em US$ 85 bilhões, em setembro. Trata-se do primeiro passo na longa jornada para a chamada "normalização da política monetária americana", ou seja, a elevação da taxa básica de juros dos Estados Unidos. A transformação externa expõe supostas fragilidades e inconsistências da política econômica interna. Para analistas, com a credibilidade da política fiscal abalada, inflação mais perto do teto que do centro da meta e defasagem crescente dos preços dos combustíveis, o Brasil se vê com pouco espaço para absorver choques externos. No mercado de juros futuros da BM&F;, a resposta a esse quadro é um acúmulo de prêmios. Entre os contratos mais longos, que refletem a percepção de risco, o DI para janeiro de 2017 fechou a 11,61%, quase 1 ponto percentual acima do nível do fim de julho.