Um dia após o Comitê de Política Monetária (Copom) elevar a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual para 8,5%, em linha com esperado pelo mercado, as taxas dos contratos futuros de juros com vencimentos mais curtos fecharam praticamente estáveis. No dólar, a decisão também teve pouco efeito, e a moeda americana fechou em queda de 0,62% a R$ 2,2590, seguindo o movimento de desvalorização verificado no exterior diante de um cenário de menor aversão ao risco.
O dólar perdeu força frente às principais moedas após o discurso do presidente do Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos), Ben Bernanke, na quarta-feira, que reforçou que os dados de inflação e de desemprego ainda requerem a manutenção dos estímulos monetários. A ata do Fed mostrou que para muitos integrantes do Fomc (Comitê de Política Monetária do Federal Reserve) a reversão da política monetária ainda depende da melhora dos dados do mercado de trabalho e da atividade econômica dos EUA.
A divulgação ontem do número de pedidos de seguro-desemprego acima do esperado ajudou a reforçar a visão de que uma eventual redução das compras de ativos pelo Fed, que somam hoje US$ 85 bilhões mensais, não será imediata. O número de pessoas que entraram com pedido de seguro-desemprego nos EUA aumentou para 360 mil na semana encerrada em 6 de julho, acima da previsão dos analistas, que esperavam uma queda para 335 mil ante o dado de 344 mil da semana anterior.
Ontem o Banco Central anunciou mais uma medida para facilitar a entrada de dólares no país. A autoridade monetária alterou o requerimento de capital para cobertura de risco das exposições de instituições financeiras sujeitas a variações cambiais. Na prática ele amplia a capacidade dos bancos de captarem recursos lá fora por meio de suas subsidiárias no exterior.
Para Carlos Thadeu de Feitas, ex-diretor do BC e chefe do departamento econômico da Confederação Nacional do Comércio (CNC), a medida não deve ter grande impacto para o câmbio, uma vez que não há uma falta de dólares no mercado e nem demanda dos bancos para aumentar as captações de recursos no exterior. "Os bancos não vão captar mais lá fora, primeiro porque há a expectativa de o dólar subir, e segundo porque não há falta de liquidez no mercado." Para ele, o BC deve adotar discurso mais firme de que vai atuar com todos os instrumentos para conter valorização excessiva do dólar.
Na avaliação de credenciado economista, essa medida não deverá produzir impacto na taxa de câmbio e pode trazer mais risco para as instituições financeiras. O requerimento de capital para cobertura desses riscos foi lançado em junho de 2008, antes de ser deflagrada a crise financeira global com a quebra do Lehman Brothers em setembro daquele ano. "Não faz sentido mexer nessas regras, ainda que apenas em um trecho dela, quando a taxa de câmbio ganhou volatilidade nos últimos três meses. Se a intenção do BC é produzir algum impacto no preço do dólar, o resultado será ínfimo", diz o economista.
No mercado futuro de juros, o contratado de DI mais negociado, com vencimento em outubro, que agora reflete as apostas para o próximo encontro do Copom no fim de agosto, fechou estável em 8,43%. Com o fato de o Copom repetir o comunicado da reunião de maio, o mercado futuro e a maioria dos economistas reforçaram a aposta em nova alta de 0,50 ponto percentual da taxa Selic na próxima reunião no fim de agosto. Para outubro as apostas se dividem entre 0,50 ponto e 0,25 ponto.