Após a confirmação trazida pela ata do Copom de que o ciclo de alívio monetário está muito perto do fim, o mercado deve voltar o foco para o rumo dos juros em 2013. E, apesar do consenso de que o Banco Central fará todo o possível para não voltar a subir a Selic, boa parte do mercado continua enxergando riscos de a inflação impor um ajuste para cima da taxa.
O documento, divulgado pelo Banco Central na última quinta-feira, reafirmou que a autoridade monetária está confiante na recuperação da economia no segundo semestre e também do investimento. E, embora tenha tratado de forma mais explícita da pressão dos preços de commodities, disse que continua acreditando na convergência da inflação para o centro da meta - ainda que isso deva ocorrer "de forma não linear".
"O BC deu um indício de que não quer subir os juros, pois acredita que a inflação, depois de avançar no curto prazo, vai voltar a cair", diz o economista-chefe do Banco Modal, Felipe Tâmega. Para ele, entretanto, as chances de um aperto monetário no ano que vem estão na mesa, mesmo com medidas que devem trazer alívio para a inflação, como a desoneração da energia elétrica. "A inflação pode, sim, dar um calor", afirma Tâmega, que prevê uma alta da Selic a partir do segundo semestre. Sua projeção é de uma taxa de 8,50% no fim do ano, estimativa que poderá ser corrigida para 9% após a leitura da ata.
Para o diretor e chefe de pesquisas para mercados emergentes para as Américas da Nomura Securities, Tony Volpon, a ata traz argumentos que podem justificar um novo aperto monetário. A desoneração das tarifas de energia elétrica, de 16,2% para o consumidor e de 28% para o setor produtivo, deve produzir um alívio importante para o IPCA no ano que vem. Ainda assim, Volpon vê a Selic em alta a partir do segundo trimestre de 2013, até alcançar 9,5%. "Acho que essa coisa de "brincar com o índice" pode até dar um fôlego, mas não vai evitar um novo aperto monetário", diz.
Para o economista-chefe para Brasil no Bank of America Merrill Lynch, David Beker, o comportamento dos juros futuros dependerá da capacidade de o BC convencer o mercado de que a inflação não será um problema. Ele projeta mais um corte da taxa básica de juros em 0,25 ponto, após o qual a Selic permanecerá nesse patamar por alguns trimestres.
Já o economista-chefe do HSBC para a América Latina, André Loes, acredita que o tom da ata do Copom favorece um cenário em que os juros permanecem baixos e estáveis ao longo de 2013. Loes projeta uma Selic de 7,25% após o próximo encontro do Copom, em outubro - taxa que permanecerá nesse patamar ao longo de 2013.