Com a inflação alta, o dólar subindo e as famílias endividadas,
comércio não repassará imposto maior a móveis e eletrodomésticos
A princípio, o consumidor não sentirá no bolso o impacto da elevação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para móveis e eletrodomésticos, que começa a vigorar a partir de hoje. O repasse do tributo para os preços por fabricantes e lojistas não será imediato, sob pena de as vendas, que já andam fracas, desabarem. Os empresários admitem que, com a inflação destruindo o poder de compra, o excesso de endividamento das famílias, a alta dos juros e a desvalorização do real frente ao dólar, o orçamento dos consumidores não comporta mais reajustes.
O quadro está tão dramático para os lojistas que, antes mesmo de o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciar o fim do IPI reduzido — o imposto subirá gradualmente até setembro —, as perspectivas para as vendas já eram ruins. A previsão era de crescimento de 4%, metade do registrado em 2012. Agora, as apostas são de incremento de 2%, caso a inflação dê uma trégua nos próximos meses. “Estamos em meio a um quadro de grandes incertezas”, admitiu Carlos Thadeu de Freitas Gomes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC).
Para ele, a tendência do varejo é de piorar, se o dólar subir demais. Muitos dos produtos que hoje abastecem os supermercados e garantem a oferta são importados. “Vamos ver até onde vai a moeda norte-americana. O Banco Central já fez várias intervenções no mercado, mas a divisa atingiu R$ 2,23. O razoável seria algo entre R$ 2,10 e R$ 2,15”, afirmou. “Estamos muito preocupados com o segundo semestre, historicamente, o melhor período para o comércio. Mas, com o bolso vazio, os consumidores não tendem a ir às compras como o desejado”, acrescentou.
O receio é compartilhado por Roque Pellizzaro Junior, presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). Na análise dele, o governo espera compensar a queda nas vendas decorrentes da alta do IPI com a linha de crédito Minha Casa Melhor, que financia a compra de móveis e eletrodomésticos aos beneficiários do programa Minha Casa, Minha Vida, no valor de até R$ 5 mil, em no máximo 48 prestações. As taxas de juros são de 0,4% ao mês (5% ao ano). As lojas credenciadas podem dar desconto de 5% nas operações.
A intenção do governo é considerada boa, mas permanece a interrogação: “Quanto desse público que comprou casa própria e está co
m parte do orçamento comprometido com as prestações vai, efetivamente, adquirir mobília ou eletrodomésticos por meio de mais dívidas?”, questionou Pellizzaro. Ele disse não estar convencido de que serão muitos, porque o cliente olhará as tabelas e constatará que o retorno do IPI, nesse momento, foi salgado.
Fique ligado
Veja como ficará o imposto
Itens IPI hoje IPI segunda IPI original
Fogão 2% 3% 4%
Tanquinho 3,5% 4,5% 10%
Geladeira e freezer 7,5% 8,5% 15%
Máquina de lavar 10% 10% 20%
Móveis 2,5% 3% 5%
Luminárias e lustres 7,5% 10% 15%
Papel de parede 10% 15% 20%