Dado reforça expectativa de corte da Selic em até 0,75 ponto percentual. Reunião do Copom começa hoje
Depois dos economistas, chegou a vez de o mercado financeiro admitir que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país não vai chegar aos 3% este ano, bem abaixo da meta de 4,5%. O relatório Focus divulgado ontem pelo Banco Central cravou, pela primeira vez, uma perspectiva abaixo desse índice — precisamente em 2,99%. Com as apostas de inflação também em baixa, cresceu a chance de um corte maior na taxa de juros na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que começa hoje. Majoritariamente, economistas e analistas ainda esperam um corte de 0,50 ponto percentual, mas há quem ache que o Bacen vai ser mais ousado e cortar a Selic em 0,75 ponto percentual, o que fará com que a taxa básica de juros da economia recue dos atuais 9% ao ano para 8,25% ao ano.
Um dos economistas que acreditam em um corte maior da taxa Selic é José Francisco de Lima Gonçalves, do Banco Fator. Ele observa que, nos últimos 42 dias, só houve más notícias, tanto no cenário interno como no externo. “Foi uma coleção de pioras”, resume. A lista de dados negativos começa com o sério problema grego, passa pela desaceleração do crescimento da China e pela fragilidade do mercado de trabalho nos Estados Unidos, chegando, por fim, ao Brasil, que vai crescer menos e sente o mercado de commodities parado, apesar da alta do câmbio. Em novembro do ano passado, Gonçalves já previa um PIB de 2,7% para este ano, expectativa mantida seis meses depois.
A pesquisa Focus vinha reduzindo a estimativa de crescimento da economia brasileira a cada semana. Há um mês, as estimativas captadas pelo relatório indicavam um PIB de 3,22% para 2012. Para 2013, a aposta de crescimento da economia foi mantida em 4,5%.
Só más notícias
Mesmo reconhecendo que o quadro só fez piorar nas últimas semanas, o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa, continua apostando numa queda de 0,50 ponto percentual. Ele pondera que o Banco Central deve ser cauteloso porque o cenário pode mudar no segundo semestre. “O governo vem adotando medidas de incentivo que, assim como a queda já ocorrida na taxa Selic, leva um tempo para fazer efeito. Caso o BC force muita na queda dos juros, poderá ser obrigado a iniciar a alta ainda este ano”.
Na avaliação de Rosa, uma queda de 0,50 ponto percentual também vai mais ao encontro do perfil dos membros do Copom. “Estou me guiando pelo próprio discurso do Tombini (Alexandre Tombini, presidente do BC), que tem enfatizado a parcimônia no corte da Selic”, explica. Essa é também a avaliação de Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora. Ele observa que o mercado está dividido entre a queda de 0,50 ponto percentual e a de 0,75 ponto percentual, com uma minoria ainda apostando em uma queda bem pequena, de 0,25 ponto percentual. Apesar do cenário nebuloso, ele segue apostando em 0,50.
A aposta dos dois economistas é a mesma do mercado financeiro. Na pesquisa Focus, os analistas mantiveram a previsão de queda de 0,50 ponto percentual, com a Selic caindo, na reunião de quarta-feira, de 9% ao ano para 8,5% ao ano. Para o final do ano nada mudou. O mercado segue com a estimativa de 8%. Dessa forma, além do corte previsto para esta semana, a Selic ainda sofrerá nova redução de 0,50 ponto percentual . Para 2013 também foi mantida a expectativa de que os juros voltarão a subir para fazer frente a uma nova escalada dos preços.
Inflação
Na pesquisa Focus divulgada ontem, os analistas já baixaram, pela segunda semana consecutiva, a previsão para o IPCA do ano. O indicador, que estava em 5,21% — fora, portanto, da meta, mas dentro do intervalo de tolerância de dois pontos acima ou abaixo — caiu para 5,17% Com a diminuição, o número esperado pelos analistas se aproxima do previsto há um mês, quando o mercado trabalhava com 5,12%. Para 2013, a expectativa para o IPCA manteve-se idêntica à da semana anterior, em 5,60%. Há um mês, a estimativa para a inflação ao final do ano que vem era de 5,53%.
Quanto ao câmbio, os analistas voltaram a prever alta. Segundo o Focus, o dólar deve chegar, ao final do ano, a R$ 1,90 — a estimativa anterior era de R$ 1,85. Para 2013 o mercado manteve a estimativa de que a moeda feche o ano em R$ 1,85. Há um mês, os analistas previam dólar a R$ 1,80 no encerramento de 2012 e também de 2013.
Mantega
Apesar da expectativa do mercado, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, manteve o otimismo quanto à evolução do PIB. Em evento promovido pela Reuters, ele afirmou que o índice de crescimento no primeiro trimestre deve ter ficado entre 0,3% e 0,5% na comparação com o quatro trimestre. O ministro prevê que a economia chegará ao segundo semestre mais robusta, já que, a partir de maio, de acordo com ele, começou a acelerar. O ministro não descartou novas medidas de estímulos, mas pediu “paciência” para que as já adotadas possam surtir efeito. “A economia já está acelerando, as medidas têm eficácia, e vamos ver isso com mais nitidez no segundo semestre”, acrescentou. “No segundo semestre estaremos crescendo a 4,5%.” Mantega disse, ainda, que o cenário de juros mais baixos “veio para ficar” e, assim, os aplicadores terão de se acostumar com rendimentos menores. A consequência é de que terão de buscar alternativas voltadas para o setor produtivo, como ações e debêntures.
» A estreia do voto aberto
A reunião do Copom desta semana marcará o início de uma nova era. Pela primeira vez na história do Comitê, o Banco Central vai divulgar, nominalmente, como votou cada um dos membros. Até agora essa informação não era tornada pública, porque os votos eram proferidos oralmente. No comunicado liberado ao fim de cada reunião, apenas era informado o placar final. As alterações adotadas buscam apenas aperfeiçoar a sistemática de deliberação do comitê e dar mais transparência às decisões do colegiado de diretores, como determina a Lei de Acesso à Informação.