São infundadas as críticas ao formato da pesquisa Focus, conduzida semanalmente pelo Banco Central, de que os representantes do mercado financeiro jogam para cima as projeções de inflação para forçar a adoção de uma política monetária mais restritiva, com taxas de juros mais altas, favoráveis aos bancos. É o que afirma o estudo de um economista do BC, Tito Nícias Teixeira da Silva Filho. De acordo com o trabalho, os analistas consultados pelo Focus têm, na verdade, tendência a subestimar a inflação.
O boletim Focus é uma pesquisa de expectativas feita com cerca de cem analistas e departamentos econômicos do setor privado. As expectativas de inflação fora de controle são a principal razão do aperto monetário conduzido neste momento pelo BC.
A pesquisa de expectativas de mercado do Banco Central, conhecida como boletim Focus, é sempre acusada de ser tendenciosa e repleta de conflitos de interesse. Seriam colhidas apenas as opiniões de representantes do sistema financeiro, que jogam as projeções de inflação para cima para forçar a autoridade monetária a manter os juros mais altos, ampliando os lucros dos bancos.
Tito Nícias Teixeira da Silva Filho, economista do BC, testou a consistência dessa acusação em um trabalho para discussão publicado pela própria instituição. Sua conclusão é que os economistas consultados na pesquisa Focus, na verdade, têm uma tendência a subestimar a inflação nas suas projeções.
O boletim Focus, divulgado semanalmente, é uma pesquisa de expectativas com cerca de uma centena de analistas e departamentos econômicos do setor privado. As expectativas para a inflação são cruciais, porque alimentam os modelos de projeção do próprio Banco Central.
Quando os analistas têm uma visão muito pessimista, em tese os juros precisam subir um pouco mais. Hoje, por exemplo, o mercado aponta uma inflação de 5,88% para 2014, bem acima da meta, de 4,5%. Coordenar as expectativas de inflação é a principal razão do aperto monetário conduzido nesse momento.
O que o trabalho para discussão do Banco Central investiga é se há um conflito de interesses que leva alguns economistas a superdimensionar suas projeções, ou simplesmente não revelar com acurácia o que preveem.
Em tese, uma administradora de fundos de investimentos teria todo o interesse de guardar apenas para si as boas projeções que faz. Seu principal ganho seria, com base nessas projeções de qualidade, melhorar o retorno dos fundos de investimentos.
Outro potencial conflito de interesse: o mercado lucra com juros altos e, para forçar o Banco Central a subir as taxas, superestimaria as projeções de inflação que encaminha ao Focus.
Nas suas 20 páginas, o trabalho feito pelo Banco Central testa essas duas teses com o uso de ferramentas matemáticas e estatísticas. Uma das conclusões é que o viés de erro nas projeções de inflação dos analistas de mercado é para baixo. Ou seja, quando erram, é sobretudo na direção de subestimar a inflação.
Outra parte do trabalho testa a hipótese de que analistas escondem a verdade nas projeções entregues ao BC para guardar boas análises para consumo próprio.
O economista do Banco Central dividiu os analistas em quatro grupos. Um deles são os gestores de fundos de investimentos, aqueles que teriam mais incentivos para esconder boas projeções para si. Outro grupo são os economistas de empresas de consultoria, que vendem análises e projeções e, teoricamente, teriam um interesse maior de acertar. Com objetivo de incentivar a excelência, o Banco Central elabora um ranking com as instituições que mais acertam as suas projeções. Para os líderes, essa seria uma espécie de selo de qualidade para exibir aos clientes.
Os outros dois grupos analisados no trabalho são os analistas de bancos de investimento e os analistas de bancos comerciais. A conclusão é que os gestores de fundos de investimento acertam mais as projeções do que os demais grupos. E os economistas de bancos de investimento e comerciais têm, grosso modo, as mesmas habilidades de previsão que as consultorias.
Numa tradução livre, o trabalho para discussão, publicado em inglês na página do Banco Central na internet, com a ressalva de que não reflete necessariamente a visão da instituição, tem o título "Projeções de Inflação de Bancos, Gestoras de Ativos e Consultorias: Existe Algum que Seja Melhor?"