As empresas brasileiras puseram o pé no freio da internacionalização nos últimos dois anos, quando a saída de recursos para investimentos em participações perdeu para o reingresso de capitais. Essa tendência ficou ainda mais acentuada em 2012: o reingresso vem sendo maior desde março. Cálculos da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet) mostram que, de janeiro de 2011 a setembro passado, deixaram o país US$ 25 bilhões em investimentos no capital de empresas, mas US$ 27,6 bilhões retornaram na forma de empréstimos. Só neste ano, até setembro, a saída foi de US$ 5,4 bilhões em participações, com reingresso de US$ 7,1 bilhões em empréstimos.
"É um recuo tático", explica Luís Afonso Lima, presidente da Sobeet. "As empresas estão usando esse artifício para investir na economia brasileira, que tem se mostrado mais dinâmica". Ao contrário do que a tradição permitiria supor, os recursos não estão vindo apenas para o mercado financeiro. "Tem a ver com abertura de plantas, especialmente nos setores de alimentos, recursos naturais e bens de consumo", diz Maria Tereza Fleury, diretora da Escola de Administração da FGV.
As empresas brasileiras puseram o pé no freio da internacionalização nos últimos dois anos. Cálculos feitos pela Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet) sobre os números do Banco Central mostram que a saída de recursos para investimento em participações em empresas perdeu para o reingresso de capital na média do período. Essa tendência ficou ainda mais acentuada em 2012: o reingresso vem sendo maior desde março.
Um olhar mais detido, porém, revela que não houve desinvestimento. A maior parcela de recursos que entram no país enviados por empresas brasileiras que atuam no exterior chega na forma de empréstimos intercompanhias. De janeiro de 2011 a setembro passado, deixaram o país US$ 25 bilhões em investimentos no capital de empresas, mas US$ 27,6 bilhões retornaram na forma de empréstimos. Só neste ano, até setembro, a saída foi de US$ 5,4 bilhões em participações, com reingresso de US$ 7,1 bilhões em empréstimos.
"É um recuo tático, mas não estratégico", explica Luís Afonso Lima, diretor-presidente da Sobeet. "As empresas estão usando esse artifício para investirem na economia brasileira, que tem se mostrado mais dinâmica que em outros locais."
Ao contrário do que a tradição permitiria supor, os recursos não estão indo apenas para o mercado financeiro. "Tem a ver com o aquecimento do mercado interno, com abertura de plantas, principalmente nos setores de alimentos, recursos naturais e bens de consumo", comenta Maria Tereza Fleury, diretora da Escola de Administração da Fundação Getulio Vargas e autora do livro "Multinacionais brasileiras: competências para a internacionalização", em fase de lançamento.
O movimento de reingresso do capital não é exclusividade brasileira. "A China está fazendo a mesma coisa", diz Maria Tereza, com base em dados da Unctad, agência das Nações Unidas para comércio e desenvolvimento. As estatísticas da organização mostram que desde 2010 os países emergentes já representam cerca de metade do investimento estrangeiro direto no mundo.
O que ocorre no momento é que a demanda está fraca no exterior, principalmente nos países desenvolvidos, comenta Lima. Isso ajuda na decisão das companhias brasileiras de internalizar o capital em um momento como este, mas o presidente da Sobeet entende que a situação é temporária. Outros fatores importantes, como a abertura de mercado, os ganhos de escala, o acesso a recursos - incluindo tecnologia e matérias-primas - devem reverter a tendência em pouco tempo, com o arrefecimento da crise.
A crise, aliás, não tem impedido que as empresas brasileiras melhorem seu desempenho no exterior. Estudo da Fundação Dom Cabral (FDC) mostra que a margem média de lucratividade das múltis brasileiras no exterior está cada vez mais próxima da obtida no país. Em 2009, a margem média no mercado doméstico do grupo de empresas consultado foi de 18,5%. No exterior o retorno não passou de 4,8%. Em 2010, a margem cresceu para 20,7% no mercado doméstico e disparou para 15,7% no externo. Em 2011, ambas recuaram, mas a lucratividade lá fora caiu menos e reduziu a diferença: 17,3% contra 14%.
"Houve um amadurecimento das empresas brasileiras no mercado externo", analisa Livia Barakat, professora e pesquisadora do Núcleo de Negócios Internacionais da FDC. Também mudou a distribuição geográfica dos negócios. A pesquisa da FDC indica que as múltis brasileiras já estão em todos os continentes. Apesar da forte concentração na América Latina, com presença de 77,8% das companhias consultadas, também há investimentos significativos das empresas na América do Norte (57,1%), Europa (46%), Ásia (44%) e África (27%).
A atual distribuição geográfica aponta para uma nova etapa no investimento no exterior, pontua Maria Tereza. A África começa a receber aportes significativos nas áreas de recursos naturais, construção e alimentos. Os novos mercados asiáticos passaram a ser desbravados por grandes companhias, como a Brasil Foods, que acaba de anunciar a abertura de sua primeira unidade chinesa.
"O que está ocorrendo agora reflete o amadurecimento das empresas brasileiras no sentido de saber que a competição global vem se ampliando e é preciso enfrentá-la para valer", explica a diretora da FGV. Ela cita a importância estratégica para quem deseja - ou precisa - ter acesso a recursos. É o caso das companhias que estão buscando a chamada inovação reversa, pela qual a empresa vai atuar no exterior, adquire tecnologia e a traz para o país. Maria Tereza menciona o exemplo da fabricante de carrocerias Marcopolo, veterana da internacionalização, com investimentos na América Latina, África, China, Rússia, Índia e, mais recentemente, na Austrália. A fabricante de softwares Totvs fez o mesmo, ao abrir agora em outubro um escritório no Vale do Silício. O objetivo é mais se aproximar do principal polo gerador de tecnologia que encontrar um lugar ao sol no mercado americano.