Sem atuações do Banco Central (BC) ou grandes operações correndo as mesas, a formação da taxa de câmbio segue relacionada ao sinal externo.
Na segunda-feira, o tom era favorável ao risco e o dólar caiu. Ontem, o dia foi de fuga do risco e o dólar subiu.
A moeda americana encerrou o pregão com alta de 0,94%, a R$ 1,939, maior cotação desde 14 de julho de 2009. Da mínima do ano, registrada a R$ 1,699, em 28 de fevereiro, o preço do dólar comercial já avançou 14,13%.
O foco de incerteza está na Europa, onde a Grécia encontra dificuldade em formar um novo governo e, no limite, pode ter de convocar novas eleições parlamentares. Da Espanha ressurgem preocupações com a saúde do setor financeiro.
Essa acentuada alta do dólar no mercado local já chega aos índices de inflação e ao mercado de juros futuros.
O movimento não é nada impressionante, mas chama atenção por ser a primeira indicação de dólar mais caro elevando os custos no atacado.
O Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) de abril subiu 1,02%, bem acima das previsões e maior leitura desde novembro de 2010. Em 12 meses, o índice passou de 3,32% para 3,86%. Com isso, foi encerrado um período de 15 meses seguidos de desaceleração nessa forma de cálculo.
O economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otavio de Souza Leal, chama atenção ao IPA industrial, que subiu 1,32%, acima dos 0,95% previstos por ele.
"Isso mantém válida a argumentação sobre o motivo da recente aceleração dos IGPs, o câmbio", diz o economista.
Segundo Leal, essa alta no preço do atacado vai acabar chegando aos preços ao consumidor. Mas o que interessa mesmo é a velocidade de transmissão. No cenário atual, isso não deve acontecer muito rápido. Primeiro, diz o economista, a indústria tem de girar os estoques que tem, antes de pensar em aumentar preço. "Como se prevê maior nível de atividade no segundo semestre, pode ser que a indústria consiga repassar esse aumento do dólar."
Tal quadro, diz Leal, indica que a "janela de oportunidade" em que a convergência dos números de inflação em 12 meses daria subsídios para redução mais agressiva da Selic pode estar chegando ao fim.
Por isso, o economista acredita que uma taxa de juros próxima a 8% parece razoável, com mais dois cortes de 0,50 ponto percentual em maio e julho. Fica a dúvida sobre o espaço para um "chorinho" de 0,25 ponto em agosto.
Essas sinalizações retiradas do IGP-DI se aliaram ao espaço para uma realização de lucros nos juros futuros, depois de um movimento de baixa sem precedentes.
As taxas futuras, especialmente as de prazo mais dilatado, tiveram firme alta na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F).
Qualquer dado de inflação divergente deve promover grande movimentação na curva, já que boa parte dos agentes trabalha com preços maiores em 2013.
Por ora, segue válida a visão de que enquanto o BC não encerrar o ciclo de baixa, não é possível "apostar contra", ou seja, carregar a mão na compra de taxa futura.
Por outro lado, cabe a avaliação menos técnica, nem por isso menos válida, de que o governo não comprou o risco de mudar a poupança para fazer cortes marginais na Selic. A visão desse grupo é de que a taxa básica vai para baixo de qualquer forma.
Hoje, atenção ao IPCA de abril, estimado entre 0,55% e 0,60%.