O aumento da volatilidade no mercado de câmbio brasileiro desde o fim do ano passado, em meio a constantes revisões para cima nas expectativas para o dólar, deterioração dos fundamentos da economia e perspectiva de redução de liquidez nos Estados Unidos, contribuiu para o crescimento de 15,27% no volume financeiro negociado no mercado cambial no primeiro semestre deste ano. O total negociado atingiu US$ 1,941 trilhão, segundo cálculos do Valor Data com base em relatórios do Banco Central. O número exclui negócios nos mercados de derivativos da BM&F e operações de swaps cambiais do Banco Central. Os dados são apresentados em dólares, portanto, não sofrem interferência da variação cambial no período.
O aumento da volatilidade no mercado de câmbio brasileiro desde o fim do ano passado amplificou o volume financeiro negociado no mercado de câmbio doméstico no primeiro semestre. Em paralelo, a retirada do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para aplicações de estrangeiros em renda fixa também contribuiu para aumentar o fluxo no setor. De janeiro a junho, as operações cresceram 15,27% em relação ao mesmo período do ano passado, para um total de US$ 1,941 trilhão. Os dados foram calculados pelo Valor com base em relatórios mensais do Banco Central (BC).
O número exclui negócios nos mercados de derivativos cambiais da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) e operações de swap cambial junto ao BC. Como são apresentados em dólares não sofrem interferência da variação cambial no intervalo analisado.
O crescimento geral foi impulsionado pelo aumento das operações no mercado interbancário, que somaram US$ 1,278 trilhão, um avanço de 19,84% em relação ao primeiro semestre de 2012. Trata-se de um movimento liderado pelas tesourarias de bancos e que não tem relação direta com operações de importação e exportação. Já o giro no mercado primário, que contabiliza negócios voltados a comércio exterior e transferências, cresceu menos, 7,35%, para US$ 662,143 bilhões.
O Itaú Unibanco recuperou a liderança no volume total negociado, detida pelo Santander um ano antes, com a movimentação de US$ 197,717 bilhões, um crescimento de 20,6% ante o mesmo período do ano passado e uma participação de mercado de 10,19%.
O Bradesco registrou a maior queda percentual entre as principais instituições, de 24,54%, caindo da 8ª para 10ª posição.
Apesar do aumento de instituições que operam com câmbio -de 157 no primeiro semestre de 2012 para 170 nos primeiros seis meses deste ano -, as operações continuam concentradas nas dez maiores. Juntas, elas responderam por 67,17% do volume movimentado entre janeiro e junho.
O responsável pela área de câmbio da tesouraria do Itaú BBA, Ruy Balieiro, afirma que a volatilidade no câmbio provoca, num primeiro momento, uma expansão do volume de negócios, já que leva alguns agentes a apressar o fechamento de contratos visando eliminar ou reduzir as chances de prejuízo. "Mas num segundo momento a volatilidade tira os agentes do mercado e reduz a liquidez, o que acaba diminuindo o volume de operações", diz.
Daqui para frente, os agentes de mercado esperam que a movimentação no mercado de câmbio aumente, principalmente com o crescimento do fluxo cambial na conta financeira, na esteira do aumento das alocações em renda fixa.
O diretor financeiro do J.P. Morgan no Brasil, Giovani Silva, avalia que a retirada de alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), foi decisiva para o aumento no volume de negócios no primeiro semestre. Ele prevê que o giro financeiro continue crescendo até o fim do ano, devido à expectativa de manutenção de um cenário de volatilidade, desta vez ligada a questões eleitorais.
"Com os desenvolvimentos recentes, os protestos de junho... o cenário eleitoral tornou-se mais incerto", diz ele. Contudo, Silva afirma que a visão geral do J.P. Morgan para o Brasil continua "bastante construtiva" e que o plano de crescimento no país segue "absolutamente intacto". "Pretendemos ampliar nossa base de clientes de 350, 400 empresas de hoje para cerca de 500, 600 no curto prazo."
O executivo avalia que, mesmo com a forte alta do dólar nos últimos meses, uma taxa de câmbio em torno de R$ 2,30 ainda permite que o "lado real" da economia continue crescendo.
O superintendente de produtos de tesouraria do Citi Brasil, Luis Kondic, vê um fluxo mais balanceado entre entradas e saídas de investimentos de estrangeiros em carteira.
Na parte de remessas, o superintendente-executivo da área de câmbio do Santander, Mauricio Auger, espera a estabilização no aumento da repatriação de lucros e dividendos, em função da queda do lucro das empresas com a expansão menor da economia. Ele explica que o nível de taxa de câmbio não afeta essas decisões, uma vez que a maioria das multinacionais tem política de "hedge".
No segmento de comércio exterior, contudo, a perspectiva continua sendo de fluxo mais fraco. "O exportador vai voltar, isso levará um tempo. As plantas das indústrias foram reduzidas nos anos anteriores com o dólar fraco, e não se retoma essa dinâmica rapidamente", afirma Auger, do Santander. Para ele, no entanto, uma eventual recuperação do fluxo comercial não será suficiente para trazer o dólar para baixo de R$ 2,30.