A expectativa de um avanço das negociações políticas para pôr fim à paralisia orçamentária e evitar um calote do governo dos Estados Unidos provocou, ontem, uma onda de otimismo nos principais mercados de ações, que fecharam com altas expressivas. Os negócios, porém, foram encerrados antes que as agências de notícias informassem, no início da noite, que o presidente Barack Obama não chegou a um acordo com os republicanos em torno de um aumento provisório do teto da dívida pública, o que poderá precipitar as bolsas em uma nova rodada dç baixas nos pregões de hoje.
Em Nova York, o índice Dow Jones valorizou 2,18%, com os investidores apostando na superação do impasse e na retomada do crescimento da maior economia do mundo. A Bolsa de Valores de São Paulo reagiu com menor intensidade e o Ibovespa teve alta de 0,85%, aos 52.996 pontos.
As ações europeias registraram o maior ganho diário em um mês, com o índice FTSEurofisrt 300 interrompendo três dias seguidos de queda para subir 1,66%. A maior valorização (2,35%) foi a da Bolsa de Madri, seguida pela de Paris (2,21%). "O preço a ser pago por um calote seria a depressão. Então, eles entrarão em acordo nos próximos dias", afirmou o estrategista da CM-CIC Securities François Duhen.
Líderes e autoridades econômicas fizeram ontem advertências sobre as conseqüências de um calote da dívida norte-americana, que deve atingir US$ 16,7 trilhões em 17 de outubro. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, disse que haveria "danos severos" à economia dos EUA e do mundo.
Bom-senso
Em entrevista à Reuters, o ministro da Fazenda, Guido Mante-ga, disse que, caso não prevaleça "o bom-senso", a economia global enfrentará um "problema sério"". Ele lembrou que outra ameaça é o desmonte da política de estímulos do BC americano, que vem injetando US$ 85 bilhões por mês no sistema bancário para incentivar a atividade. Para o ministro, no entanto, a redução dos incentivos já está incorporada ao preço dos ativos, e os problemas não serão tão sérios se a mudança for feita de forma gradual.
As preocupações sobre a virada na política monetária dos EUA provocaram alta do dólar em todo o mundo nos últimos meses. Os temores ficaram em segundo plano depois que a crise orçamentária em Washington eclodiu, mas devem voltar com força se houver acordo na questão fiscal. Ontem, o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, disse que os emergentes terão de dois a três meses para realizar reformas que melhorem o ambiente de negócios e favoreçam os investimentos, antes que o BC americano comece a retirar os estímulos.