A mesma Petrobras que sustentou a alta do Ibovespa na quarta-feira ajudou a empurrar o índice para baixo ontem. A diferença é que, ontem, o mercado brasileiro esteve alinhado ao cenário internacional negativo. O "culpado" pelo mau desempenho da estatal foi o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.
O ministro, mais uma vez, ignorou o fato de a Petrobras ser uma companhia aberta - o que exige a divulgação de comunicados formais a todo o mercado - e afirmou durante uma entrevista coletiva na sede do BNDES, no Rio, que a companhia vai substituir o diretor financeiro, Almir Barbassa. A declaração obrigou a Petrobras a divulgar um comunicado com a bolsa ainda aberta, faltando pouco mais de 10 minutos para o fechamento do pregão, negando que estaria trocando de diretor. "Não teve graça", resumiu o chefe de análise de uma grande corretora nacional sobre a "trapalhada".
Além de "demitir" Barbassa, Lobão também falou abertamente sobre a questão do reajuste dos combustíveis, o que fez os papéis da estatal devolverem os ganhos de ontem, quando subiram embalados por boatos de reajuste. O ministro deixou claro que o aumento no preço da gasolina só acontecerá se o preço do petróleo no mercado internacional alcançar os US$ 130. Como o barril fechou cotado a US$ 116 ontem, no menor valor desde fevereiro, o mercado entendeu que nada acontecerá por enquanto. "Estamos examinando esse assunto com cuidado para não haver nenhuma influência na inflação", disse o ministro.
Petrobras PN, que havia disparado 3,33% na quarta-feira, devolveu 2,72% ontem, fechando a R$ 21,40. O papel ON recuou 3,12%, para R$ 22,34. Com isso, o Ibovespa encerrou em baixa de 0,51%, aos 62.104 pontos, com volume de R$ 6,773 bilhões.
Além de Petrobras, os investidores estiveram atentos ontem ao indicador de atividade do setor de serviços nos Estados Unidos, que decepcionou os economistas e até se sobrepôs à forte queda nos pedidos de seguro-desemprego do país. Além disso, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, sinalizou que não estuda novo afrouxamento da política monetária.
Na avaliação do economista-chefe da Mauá Sekular Investimentos, Rodrigo Melo, os investidores se ajustaram a números que indicam um crescimento menor que o esperado do mundo no segundo trimestre. "Após uma sequência de dados melhores dos Estados Unidos no primeiro trimestre, o mercado ficou à espera de mais novidades positivas para abril a junho", diz. "Mas os indicadores mistos estão frustrando algumas expectativas." Ele lembra que, nos EUA, pesam os índices de massa salarial, que crescem a uma taxa baixa e, na ponta final, prejudicam o consumo no país. Hoje, as atenções devem ficar por conta do relatório de emprego dos Estados Unidos em abril, o "payroll".
As ações ON da TIM (-5,83%, a R$ 10,65) ficaram entre as maiores baixas do Ibovespa. A coluna Radar, da revista "Veja", informou que a Telecom Itália teria aprovado a demissão do presidente da TIM no Brasil, Luca Luciani. Procurada, a TIM Brasil classificou a notícia como "boato". Luciani está sendo investigado na Itália em um caso de fraude. A empresa não teria dado baixa contábil em linhas pré-pagas inativas entre 2005 e 2007.