Estudo mostra impactos do crédito alto, da carga tributária e da deficiência da educação no crescimento da economia. Mudanças poderiam elevar o PIB a R$ 7,2 trilhões em 2022
O Brasil vai ter seu potencial de crescimento limitado a 3,5% ao ano caso não promova uma série de reformas na economia — mudanças que, se não forem implementadas, representam, na ponta do lápis, um prejuízo de R$ 1,3 trilhão ao ano até 2022. Segundo um estudo elaborado pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide) apresentado no 11º Fórum de Comandatuba, na Bahia, se fazem urgentes alterações tributárias e fiscais, além de uma redução no custo do crédito e uma melhora radical na qualidade do ensino. Com medidas nessas áreas, de acordo com o documento, o país teria capacidade de crescer a 6% ao ano sem gerar pressões inflacionárias.
Paulo Rabello de Castro, economista-chefe do Lide e responsável pelo estudo, explica que apenas com a redução na taxa básica de juros (Selic) e do custo do crédito no Brasil, o potencial de crescimento sobe para 4,2% ao ano. "Com os juros elevados, os estados são agiotados pelo governo, que, por sua vez, é agiotado pelo mercado", disse. "A presidente Dilma faz bem em reduzir os juros no país, isso constitui uma verdadeira reforma financeira", emendou. Ainda segundo ele, um realinhamento fiscal, tanto do ponto de vista de arrecadação como de gestão dos gastos públicos, daria ao país capacidade de se expandir a taxas anuais de 5,6% ao ano. Com uma reforma também no ensino, esse potencial subiria para 6% ao ano.
"Estamos falando de um Brasil que pode chegar a um PIB de R$ 7,2 trilhões em 2022", afirmou Castro que em seguida pediu a representantes do Congresso e ao vice-presidente da República, Michel Temer, um projeto de reforma tributária. Luiz Fernando Furlan, dono da corretora Concórdia e ex-ministro do Desenvolvimento, fez coro com Castro. "É hora de o governo ter mais ousadia tributária", sugeriu. O economista do Lide foi além. "O que não pode é o governo avançar sobre o bolso da iniciativa privada", enfatizou. "É preciso meta para reduzir os gastos correntes da administração pública."
Inovação
O ministro da Educação, Aloízio Mercadante, listou uma série de medidas que estão sendo tomadas para resolver parte do problema. Ele sugeriu ainda que o governo deve usar mais tecnologia para melhorar a qualidade do ensino e repetiu seguidas vezes a palavra inovação. Para parte da plateia, entretanto, Mercadante chegou à Bahia sem nenhum projeto concreto de mudança na bagagem.
Robson Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), citou ainda mais um problema que tem derrubado a competitividade e o potencial brasileiro: a cotação do real frente ao dólar. Na visão dele, todo e qualquer capital que chegasse ao país deveria ser tributado. "Apenas depois de comprovado que o dinheiro destinou-se a investimentos no setor produtivo o dono do capital seria restituído", sugeriu. O Fórum de Comandatuba durou todo o fim de semana e reuniu os 350 principais executivos do país, além de parlamentares e artistas.