O real passou a semana "no seu mundo". Enquanto bolsas e commodities caíram e a volatilidade subiu, a moeda brasileira ganhou do dólar.
De fato, a moeda americana caiu 0,05% na semana passada. Não é lá grande coisa, mas é a primeira queda semanal após cinco semanas consecutivas de valorização. Na quinta-feira, o dólar comercial caiu 0,16%, para R$ 1,825.
No câmbio externo, o comportamento do dólar foi outro. O Dollar Index, que mede o desempenho da divisa americana ante uma cesta de moedas, subiu 0,42%, para 80,08 pontos, maior leitura desde meados de março. Na semana, o índice subiu 1,43%.
Já o euro caiu 0,62% na quinta-feira, para US$ 1,306, e amargou uma baixa de 2% na semana.
Ilustrando como a semana não foi favorável aos ativos de risco, o VIX, que mede a volatilidade das opções nos EUA e é visto com um termômetro do medo do mercado, subiu 7,4% no período. Em nota a seus clientes, um operador foi bastante sincero. "Na verdade, eu não tenho entendido o que está acontecendo com o real", escreveu.
Tal comportamento díspar da moeda brasileira causa surpresa, mas nem tanto. Isso é reflexo de um mercado cada vez menos flutuante. Conforme o governo toma medidas de restrição ao capital externo e sobe o tom nas ameaças, a cautela aumenta e a tomada de decisão deixa de ser técnica.
Por mais que o preço seja atrativo, apostar na queda do real dentro desse ambiente não é algo inteligente, ou colocando em termos de mercado, a relação risco/retorno não é atrativa.
A percepção, ao menos de parte do mercado, é que, ao contrário das outras vezes, quando o governo gritou e tomou medidas mas acabou afrouxando a mão, desta vez a "coisa é séria".
Ainda mais tendo em vista que esse compromisso de não deixar o real se valorizar está inserido no contexto de uma política de crescimento, que tem desdobramentos na condução da política monetária e em ações afirmativas do governo. Sem contar, agora, com a guerra contra os elevados spreads bancários.
A dúvida que persiste é até quando esse descolamento do real vai durar.
Olhando o mercado de juros futuros, a suspeita que rondava as mesas de operação na quarta-feira à tarde se confirmou.
No mercado de juros, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de fato, surpreendeu para baixo. A inflação oficial foi de 0,21% no mês passado, contra projeções que oscilavam ao redor de 0,40%. Tal comportamento da inflação, aliado aos crescentes esforços do governo para impulsionar a atividade, mudaram a perspectiva do mercado. A tese de Selic abaixo de 9% foi reforçada.
A curva futura já mostra uma redução de 0,75 ponto percentual no encontro de 18 de abril do Copom e mais uma redução residual no encontro de maio.
"Não adianta ir contra. E temos de dar o braço a torcer. O [Alexandre] Tombini estava certo e o modelo de inflação do Banco Central está melhor que o do mercado", diz um gestor.
Para esse especialista, pode ser que o BC abandone a referência à Selic próxima às mínimas históricas, algo que levou o mercado a colocar 9% como piso, abrindo espaço para uma taxa básica de juros de 8,75% ou mesmo 8,50%.