Ao ritmo de uma crise que parece acelerar para um desfecho turbulento na zona do euro, os investidores externos retiraram pela conta financeira US$ 5,19 bilhões do Brasil em pouco mais de duas semanas de maio (até o dia 18), quantia semelhante à de dezembro de 2008, quando o mundo vivia plenamente as consequências desastrosas da falência do Lehman Brothers. Investidores em ações formam um dos contingentes principais da fuga do risco. Até o dia 21, retiraram liquidamente US$ 3 bilhões, enquanto o Ibovespa recuava em tombos sucessivos até os 54.716 pontos de ontem, com uma queda de 20% desde o pico de 13 de março. Só em maio, o recuo atinge até agora 8,5%
O Banco Central interveio fortemente no mercado, ontem, quando a cotação do dólar chegou a se dirigir para R$ 2,10 - enquanto o diretor de política monetária, Carlos Hamilton, sinalizou que a autoridade monetária estava preocupada com a volatilidade das cotações, que fecharam em baixa de 1,97%, a R$ 2,039.
A intervenção do BC domou localmente a tendência generalizada de alta do dólar diante das moedas. A vítima principal ontem, em meio às fortes quedas das bolsas europeias, foi o euro, que caiu ao menor valor ante a moeda americana desde julho de 2010 e chegou a US$ 1,254. Até as eleições gregas, o euro mantinha o enigma de não se desvalorizar expressivamente mesmo diante do desenrolar de uma enorme crise. Agora, boa parte dos investidores anteveem maiores chances de rompimento da união monetária e isso tem intensificado nos últimos dias a fuga para a segurança em direção aos títulos do Tesouro americano e aos Bunds alemães.
Ontem, a Alemanha passou a se financiar de graça pelo período de dois anos. Berlim vendeu € 4,5 bilhões em papéis com esse prazo, ao preço médio de € 0,9987, com rendimento efetivo de 0,07% para o investidor. Os custos dos empréstimos para os governos do Reino Unido, Suécia e Holanda também caíram a novos recordes de mínima, enquanto continuavam a subir preocupantemente para os países do sul da Europa, agravando as tensões dentro da zona do euro. "É inaceitável que alguns países possam se financiar pagando 6% e outros praticamente a 0%", disse o presidente francês, François Hollande, poucas horas antes de um encontro informal dos líderes europeus, em Bruxelas.
Os mercados sinalizaram durante o dia que esperavam mais uma reunião sem grandes decisões - e acertaram. A cúpula de Bruxelas tornou mais uma vez explícita a oposição alemã à emissão conjunta de eurobônus, no mesmo dia em que se divulgou os resultados de outro encontro, de ministros das Finanças do bloco, em que foram claramente chamados a detalhar seus planos de contingência para o caso de a Grécia abandonar o euro.