A Grécia não sai da cabeça dos investidores. A bolsa brasileira teve mais um dia difícil e o Ibovespa chegou a cair mais de 3,5% e quase perdeu os 53 mil pontos. Mas, na última meia hora de pregão, "parecia que a crise tinha sido resolvida", brincou um operador. As bolsas americanas tiveram uma súbita melhora e saíram do terreno negativo para fechar em leve alta. A recuperação lá fora fez o Ibovespa retomar os 54 mil pontos e encerrar com baixa moderada, de 0,76%, aos 54.619 pontos. O volume alcançou R$ 8,567 bilhões.
Apesar da estranha recuperação de última hora, o principal índice da bolsa brasileira traçou uma figura animadora no gráfico, aponta o analista técnico da Mycap, homebroker da Icap Brasil, Raphael Figueredo. "Deixou um martelo em cima de uma região de suporte forte", diz o especialista, referindo-se aos 54.500 pontos. "É a segunda vez que o índice respeita esse nível." Otimista, ele vê chances de a Bovespa engatar uma recuperação consistente no curtíssimo prazo, caso o mercado feche hoje acima dos 55 mil pontos, com primeiro objetivo nos 57 mil.
No pregão de ontem, ao longo do dia circularam especulações de que a Grécia poderia deixar a zona do euro e, com elas, veio a aversão ao risco. O motivo da melhora no fim do pregão seria outro rumor, de que os líderes europeus, que estiveram reunidos na última noite em Bruxelas, já teriam um plano para evitar a saída do país.
Os papéis do Banco do Brasil (-4,20%) caíram forte, diante dos rumores de que a instituição estatal poderia comprar as operações do espanhol Santander (+0,66%) no Brasil. O BB negou "com veemência" a história. Entre as ações mais negociadas, Petrobras PN recuou 2,43%, para R$ 19,23. Vale PNA se recuperou no fim do dia e fechou em alta de 1,01%, a R$ 36,80; e OGX ON também terminou no azul, com ganho de 2,95%, para R$ 11,51.
As construtoras chamaram atenção na pequena lista de altas do dia. Acostumadas a figurar na outra ponta do mercado, PDG Realty ON (3,36%) e Gafisa ON (3,03%) respiraram ontem.
Ações de consumo figuraram entre as maiores baixas, o que não acontecia há semanas: Pão de Açúcar PN (-5,22%), Hering ON (-4,90%), Lojas Americanas PN (-3,88%) e Natura ON (-2,38%). "O varejo foi um dos poucos setores que tiveram boa performance neste ano. Tudo indica que foi uma realização de lucros", avalia o sócio-diretor da AZ Investimentos, Ricardo Zeno.
Mesma opinião tem o analista Renato Prado, da Fator Corretora. "O setor possui bastante gordura para queimar." Ele cita o exemplo da Hering, que mesmo com a perda de ontem, ainda sobe 21% no ano ante queda de 3,8% do Ibovespa no mesmo período. Prado comenta ainda que os investidores estão reavaliando as perspectivas otimistas para a área de consumo, diante da redução das projeções de crescimento da economia brasileira. "Parece que caiu a ficha do mercado, de que o PIB não deve crescer nem 3% este ano."
E depois de perder 20% em dois dias, HRT ON recuperou 3,03%, para R$ 309,11. O diretor-presidente, Marcio Mello, afirmou que a empresa continua otimista com a exploração da Bacia do Solimões, apesar dos resultados ruins na perfuração de dois poços.