O Banco Central (BC) vai atuar no câmbio se houver disfuncionalidade. A afirmação é do presidente da autoridade monetária, Alexandre Tombini.
Assim sendo, na segunda-feira, o mercado de câmbio estava "funcional", pois o BC não entrou no mercado mesmo com o dólar subindo forte e completamente descolado no cenário externo.
O dólar comercial fechou com alta de 1,34%, a R$ 2,046, maior cotação em três anos. Em 2012, a moeda acumula ganho de 9,5%. E da mínima do ano, registrada a R$ 1,699 em 28 de fevereiro, a valorização chega a 20,4%.
Na conta oposta, o real foi destaque mundial de baixa no dia dentro de uma cesta com moedas emergentes e desenvolvidas.
Na sexta-feira, o BC havia ofertado swap cambial, operação que equivale à venda de dólar futuro, deixando para alguns a impressão de que atuava para segurar a disparada do dólar acima de R$ 2. Mas não foram ofertados swaps novos e o que houve foi a antecipação de uma rolagem de contratos de swap reverso que venceriam em 1º de junho. O swap reverso equivale à compra de dólares e foi colocado no mercado quando o BC suavizava o movimento de baixa da moeda americana. Em julho, vencem mais US$ 2,5 bilhões em swaps reversos.
Na sexta-feira, além da firme valorização do dólar (+2,5%), foi notado um elevado volume de remessas para o exterior e uma disparada na taxa do cupom cambial (juro em dólar no mercado brasileiro). Ontem, os comentários foram de entrada de moeda e o cupom caiu. Quanto maior a oferta de dólares à vista, menor a taxa do cupom cambial.
Para parte do mercado, não basta olhar a valorização do dólar ou mesmo o preço da moeda para prever atuações do BC. O foco da autoridade seria mais sutil, como o descasamento de preços entre mercados à vista e futuro e fortes altas na taxa do cupom cambial. Na sexta, o cupom cambial de curto prazo disparou mais de 20%, enquanto ontem caiu 11%.
Para um economista, o dólar, ontem, não refletiu fundamentos internos ou o sinal internacional. A formação de preço captou uma briga acirrada entre grandes tesourarias.
Um tesoureiro chama a atenção para o aumento na demanda por opções de compra de dólar a preços cada vez mais elevados. Isso mostra que parte do mercado está apostando em uma velocidade maior de mudança de preço. Outra avaliação do tesoureiro é que houve aumento na procura por hedge (proteção) no mercado. As empresas que captaram em dólares quando o mercado estava favorável estão tentando se proteger.
Outra percepção que cresce é de que boa parte das captações não será rolada. As empresas não vão renovar as linhas externas.
A explicação é simples. A piora de humor externo elevou o custo de captação e a variação cambial não está mais favorável ao endividamento em moeda estrangeira.
Mais um ponto observado é a taxa de juros doméstica menor. O spread caiu em comparação com os últimos meses, ao mesmo tempo em que o custo do hedge permaneceu igual (ou subiu) e a variação cambial mudou. "A ideia é não renovar as linhas. O hedge ficou mais caro e o spread caiu", diz o tesoureiro sobre suas próprias linhas. Para o tesoureiro, só os grandes bancos e as grandes empresas devem renovar as linhas externas, pois eles conseguem taxas melhores na captação de recursos externos.