Sem a referência dos mercados americanos nesta segunda-feira, devido ao feriado do Memorial Day, a bolsa brasileira deverá ter um pregão de liquidez reduzida, oscilando ao sabor do noticiário local e das tensões na Europa.
Mas a esperada calmaria de hoje não se repetirá no resto desta semana, recheada de indicadores econômicos, como a atividade industrial da China, da zona do euro e do Brasil; os PIBs dos EUA e do Brasil; e os dados do mercado de trabalho americano. Destaque ainda para a reunião do Copom, que deve anunciar um novo corte nos juros básicos.
Apesar da grande quantidade de informações, o (mau) humor dos mercados continuará oscilando em função dos desdobramentos da crise na Europa. Na sexta-feira, o foco da crise saiu um pouco da Grécia e recaiu sobre a Espanha. O Banco Financiero y de Ahorros (BFA), controlador do Bankia, informou que precisará de € 19 bilhões em ajuda financeira do governo, o que representa o maior socorro já pedido por um banco na história da Espanha.
Análise feita pela equipe do Santander no Brasil indica que as ações brasileiras e internacionais parecem ter entrado em "modo de crise", centradas no risco de uma possível saída da Grécia da zona do euro e mesmo de um potencial colapso do próprio euro. Os analistas Marcelo Audi e João Noronha dizem que, tipicamente, em tais condições de mercado, prevalece um sentimento de quase pânico no investidor, e os horizontes de tempo se encurtam de forma drástica. Nesse ambiente, eles recomendam que os investidores acompanhem três canais principais de contágio de um choque externo na economia brasileira - os três "C"s": câmbio, crédito e confiança.
Na somatória, esses canais apresentam, até agora, um grau moderado de contágio, na visão deles. O real, o primeiro dos C"s a ser afetado, já mostra algum contágio. Quanto ao crédito, até agora não houve qualquer dano relevante. Nas margens, o crescimento do crédito ao consumidor está acelerando, ao passo que o do segmento corporativo está praticamente estagnado. Já para o terceiro C, da confiança, a situação seria a melhor possível. A confiança do consumidor voltou aos picos históricos observados em 2010, quando a economia cresceu 7,5%. "Este é um amortecedor importante para enfrentar o choque externo, particularmente em uma economia na qual o consumo das famílias representa 62% do PIB", afirmam em relatório.
Voltando ao comportamento dos mercados na sexta-feira, os investidores hesitaram em manter posições compradas nas bolsas americanas devido ao feriado prolongado. As preocupações relacionadas à crise europeia tiraram o brilho do indicador de confiança do consumidor em maio, divulgado pela Universidade de Michigan, que veio acima do esperado. O índice Dow Jones caiu 0,60% e fechou com 12.545,83 pontos. O S&P-500 recuou 0,22%, para 1.317,82 pontos. E o Nasdaq caiu 0,07%, para 2.837,53 pontos.
O pregão na Bovespa foi relativamente tranquilo, depois de uma semana de forte volatilidade. O mercado local se descolou das bolsas americanas e passou por recuperação técnica. Construtoras e bancos lideraram os ganhos, enquanto Vale, Embraer e as elétricas concentraram as perdas. O Ibovespa terminou o dia em alta de 0,74% e praticamente zerou as perdas na semana (-0,09%). Em maio, no entanto, recua 11,9%, e no ano, cai 4%.
A recuperação da Bovespa não foi mais expressiva porque as ações da Vale não permitiram. O papel PNA caiu 1,62%, a R$ 35,73, enquanto a ação ON recuou 1,87%, a R$ 36,55. A saída de Ricardo Flores do comando da Previ inquietou os investidores da mineradora. O fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil é o principal sócio do bloco de controle da Vale. O atual vice-presidente do BB, Dan Conrado, substituirá Flores na presidência do fundo de pensão.
Conforme apontou a edição de sexta-feira do Valor, a movimentação na Previ reacendeu a preocupação nos minoritários sobre a ingerência do governo na companhia. "É uma interferência direta do governo em uma empresa privada", resumiu o chefe de análise de um corretora nacional.
Há algum tempo os investidores demonstram descontentamento com as interferências do governo no funcionamento do mercado, seja com o anúncio de medidas de estímulo setorial, corte mais acentuado de juros, ou mesmo operações no câmbio.
O economista-chefe do Barclays para o Brasil, Marcelo Salomon, afirmou em relatório que "parte do desencanto é reflexo direto da maior intervenção do governo nos mercados de renda fixa e variável". Ele cita também o ritmo mais fraco de crescimento da economia brasileira como outro motivo para a perda de interesse dos investidores pelo país.