Inflação em queda, crescimento baixo e nova rodada de piora externa. Após três dias seguidos de alta, as taxas tiveram queda firme na sexta-feira
Inflação em queda, crescimento baixo e nova rodada de piora externa. Com esses argumentos em pauta, o movimento de alta observado nas taxas de longo prazo da curva de juros futuros não se sustentou. Após três dias seguidos de alta, as taxas tiveram firme queda na sexta-feira.
Parte da alta recente dos vencimentos longos foi atribuída a ajustes técnicos e à saída do investidor estrangeiro, que mostra uma das menores posições em curva futura dos últimos anos.
Entre os vencimentos curtos, que captam as decisões do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), o contrato para janeiro de 2013 caiu 0,07 ponto e fez nova mínima histórica a 7,55% ao ano.
Nessa taxa estão embutidas uma redução de meio ponto percentual no Copom desta quarta-feira e mais um corte de mesma magnitude no encontro de 29 de agosto do colegiado do Banco Central (BC).
Segundo o economista para América Latina do Standard Chartered, Italo Lombardi, a tendência é de que cada vez mais a política monetária seja mais frouxa. Não só pelos eventos domésticos, mas também pela falta de dinamismo das economias desenvolvidas.
Nesse ambiente, diz o especialista, o BC pode ser mais agressivo na redução da Selic, não no tamanho dos cortes, mas sim prolongando o ciclo de baixa para além dos 7,5% consensuais.
"A crise externa está sendo mais extensa do que o esperado e mais profunda também", diz Lombardi. Além desse fator, o especialista aponta que o atual colegiado do BC se mostra mais preocupado com o crescimento.
De acordo com Lombardi, essa avaliação quanto à política monetária também acarreta consequências no câmbio. "Cada vez que o mercado entende que o juro pode ir para um patamar mais baixo, é natural que tenha alguma depreciação do real."
Essa relação juros/dólar não decorre apenas pelo diferencial de juros - quanto menor o juro doméstico, menos atrativas as operações de arbitragem -, mas também da sinalização de que o crescimento da economia será menor.
Mudando o foco para a inflação, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de junho surpreendeu para baixo ao marcar 0,08%, leitura abaixo do previsto e menor desde agosto de 2010. É o "efeito Mantega" na inflação. Os cortes de IPI sobre carros e linha branca pegaram em cheio a medição do mês. Como bem disse a CM Capital Markets em nota a clientes: "Quem disse que a Fazenda não ajuda o BC?".
O resultado é "comemorado" por aqui, mas deixa observadores externos um tanto intrigados. Como a inflação continua tão alta se a economia não cresce?
Em 12 meses, a inflação oficial é de 4,92%, enquanto o Focus mostra PIB de 2,05% para 2012.
Olhando apenas alguns vizinhos fica evidente o quanto resistente é a inflação por aqui. Dados levantados pela empresa de análises de mercado 4Cast ilustram esse quadro.
O Chile tem inflação acumulada de 2,7% em 12 meses e um crescimento de PIB estimado em 4,5%. A Colômbia tem inflação de 3,2% para um PIB de 4,8%. No Peru, uma inflação de 4% responde a uma expectativa de crescimento de 5,8%. E o México tem inflação de 4,25% para um PIB projetado de 3,8%.