Está difícil para o investidor manter o sangue frio em momentos de estresse como o vivido atualmente pelos mercados financeiros mundiais. Especialmente no Brasil, a saída dos estrangeiros e a consequente combinação de bolsa despencando e dólar disparando têm dificultado cada vez mais a busca por rentabilidade na renda variável ao longo deste ano.
Nos últimos dias, os mercados testaram mais uma vez a paciência dos aplicadores. O Ibovespa, índice que serve de referência para a Bovespa, caiu 4,6% na semana passada e fechou o pregão de sexta-feira aos 47.056 pontos, retomando patamares não vistos desde abril de 2009. Já o dólar comercial teve alta de 4,5% no período e fechou cotado a R$ 2,244.
Apesar do receio dos investidores de aprofundar as perdas, o momento de agir e aproveitar as oportunidades pode estar próximo. Pelo menos é o que indicam índices que medem o grau de nervosismo da bolsa com base em um estudo de sinais para prever terremotos.
Segundo Marco Antonio Leonel Caetano, pesquisador do Insper que desenvolveu o método de análise em parceria com Takashi Yoneyama, do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), a bolsa brasileira está bem próxima de chegar ao período ideal para a retomada das compras. O método em questão avalia o nível de estresse das bolsas nos momentos que antecedem crises ou que revelam bons períodos para compras e tem como referência as frequências com que os preços se moveram nos últimos 60 dias.
O Índice de Mudanças Abruptas - pertencente ao site "Mudanças Abruptas" (www.mudancasabruptas.com.br) - tem duas linhas: o IMA-entrada, que indica a possibilidade de viradas para altas bastante significativas, e o IMA-crash, que identifica o perigo de viradas para quedas. Os índices variam de zero a um. No caso do Ibovespa, o IMA-crash está em zero, mas o IMA-entrada está situado no patamar de 0,97, ou seja, bem próximo de uma virada de trajetória.
"Em tese, o índice aponta um excelente momento para compra, mas, como todo dia tem uma notícia diferente, o ideal seria esperar o IMA-entrada atingir o ponto máximo e começar a cair. Esse, então, seria um bom momento para entrar na bolsa para o investidor que tem dinheiro para comprar e pode esperar, sem ter pressa", diz Caetano.
O professor ressalva, contudo, que o investidor segue exposto a riscos, já que ainda não dá para dizer que o Ibovespa atingiu o "fundo do poço". Especialmente em uma semana marcada pela sinalização de enxugamento da liquidez dada pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano).
Além do próprio Ibovespa, chama atenção o IMA-entrada das ações da Petrobras, situado atualmente em 0,98, o que, para Caetano, indica um excelente momento de compra principalmente para operações de curto prazo, com compra e venda em dois dias.
Enquanto no Brasil investidores tentam descobrir o "fundo" para saber o momento ideal para buscar as pechinchas, nos Estados Unidos, os questionamentos são opostos. Com alta de cerca de 13% neste ano, o ritmo do índice americano Dow Jones começa a dar sinais de enfraquecimento.
Com alta em todos os meses de 2013, apenas em junho o índice começa a inverter o sinal, com queda acumulada de 2,1% até sexta-feira. Pela análise de Caetano, um desastre pode estar a caminho.
A pedido do Valor, o pesquisador do Insper calculou o IMA-crash, que mede o risco de reversão de uma tendência de alta, do Dow Jones. O indicador está situado em 0,8 e começando a recuar, o que, segundo Caetano, é um sinal de grandes quedas no índice nas próximas semanas.
"Provavelmente o Dow Jones deverá cair mais de 10% até o IMA-crash zerar", afirma o pesquisador, que alerta para o perigo de o Ibovespa acompanhar a trajetória. "O movimento ainda pode demorar algumas semanas nos Estados Unidos, mas, se iniciado, tende a afetar o mercado brasileiro", diz.
As perspectivas negativas também se aprofundaram pelo ângulo dos chamados "grafistas", já que o Ibovespa chegou a perder a linha dos 46 mil pontos na mínima do pregão de quinta-feira.
"A análise técnica não é uma ciência exata, mas eu diria que há 90% de probabilidade de que o Ibovespa vai continuar a cair. Está tudo apontando para baixo", diz o analista técnico Marcio Noronha, do site www.timing.com.br.
Se confirmada a indicação, o Ibovespa tende a buscar o próximo objetivo, de 35.721 pontos. De acordo com Noronha, o movimento não será em queda livre, mas terá um ritmo acelerado, de semanas. Ainda com base nessa sinalização, o Ibovespa estará caminhando para o nível dos 29.400 pontos, o fundo de 2008, época marcada pela crise financeira.
Segundo o analista, além da bolsa brasileira, os mercados acionários da China, Alemanha, Índia e dos Estados Unidos estão em tendência de queda.