Política de intervenção cambial do governo surtiu efeitos não apenas no dólar, que em 12 meses disparou cerca de 30% e voltou a superar a casa dos R$ 2
A política de intervenção cambial do governo surtiu efeitos não apenas no dólar, que em 12 meses disparou cerca de 30% e voltou a superar a casa dos R$ 2. Também teve importante impacto no volume de operações, que caiu 15,8% no primeiro semestre na comparação com o mesmo período do ano passado, para US$ 1,687 trilhão, segundo dados do Banco Central.
Os números mostram que o movimento foi puxado pela redução nas operações no segmento interbancário, que recuaram 23,5%, para US$ 1,066 trilhão, na mesma base de comparação.
Na opinião do economista-chefe do Deutsche Bank Brasil, José Carlos Faria, a redução no volume reflete o encarecimento das operações, que levou alguns agentes a migrarem negócios para outras bolsas do mundo, como a de Chicago. O Deutsche Bank está entre os dez bancos que mais negociaram no mercado de câmbio brasileiro no primeiro semestre deste ano.
"O IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) nos derivativos, sem dúvida, foi uma das medidas que mais pesaram, porque mexeu com o mercado onde a taxa de câmbio é formada e foi um recado muito claro de que governo está disposto a evitar que o real se valorize demais, nem que para isso tenha que taxar apenas um lado", afirmou.
O IOF de 1% incide sobre operações que aumentem a posição vendida em dólar em derivativos cambiais ou reduzam a posição comprada. Essa medida foi anunciada há cerca de um ano, quando o dólar operava nas mínimas desde a adoção do regime de câmbio flutuante, em 1999, e se seguiu a outras ações para evitar que a apreciação da moeda brasileira prejudicasse ainda mais a indústria, já combalida pela crise externa.
Faria chama atenção para o clima de incerteza que essa política gera e para o que ele classifica como "volatilidade de medidas". "Se o investidor percebe incerteza e volatilidade num mercado, ele vai evitá-lo. Esse comportamento é natural e previsível e certamente ajudou a reduzir o volume geral do mercado."
Ao longo do primeiro semestre do ano passado, o governo elevou o prazo das operações de empréstimo externo sujeitas à alíquota de 6% do IOF, enquanto o Banco Central seguiu agindo nos mercados à vista e futuro para conter a alta do real. Na segunda metade do ano, a disparada do dólar levou a autoridade monetária a inverter a mão e passar a atuar para frear uma valorização mais acentuada da moeda americana.
Neste ano, um cenário parecido se desenhou. Conforme o dólar retomou a trajetória de queda, o governo voltou a adotar medidas para conter o fluxo de capital, ao mesmo tempo que o BC intensificava as atuações no mercado. A crise externa, no entanto, agravou-se, levando o governo a reverter parte das ações tomadas até então com o objetivo de evitar a baixa da moeda americana.
Para o gestor da XP Macro Fundo de Investimento Multimercado, Carlos Eduardo S. Uchôa, os volumes no mercado de câmbio devem se manter menores quando comparados ao ano passado. "Considerando que a intervenção do governo no câmbio é um dos principais fatores para a queda nos volumes e que esse modus operandi continue, não há por que pensar numa recuperação do montante negociado aos níveis do ano passado", disse.
Segundo ele, até mesmo uma reversão das medidas cambiais tomadas até agora levaria algum tempo para impulsionar o giro. "Se o governo reverter as medidas, provavelmente será por conta do agravamento da crise externa. Sendo assim, a confiança que o investidor teria para operar no curto prazo seria minada pela escalada da incerteza lá fora. Ficariam elas por elas", afirmou.
"Acho que haveria um impacto significativo nos volumes apenas se o governo mantivesse a revogação das medidas cambiais mesmo depois de o mercado externo se tranquilizar. Nesse caso, os fluxos aumentariam, o que certamente elevaria o volume negociado."