A economia global vive em "uma montanha-russa" nos últimos seis meses e, por isso, a retomada do crescimento ainda é lenta e frágil, podendo ser revertida rapidamente, afirmou ontem o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Olivier Blanchard. Ao divulgar a nova edição do relatório "Perspectivas para a Economia Mundial", Blanchard disse que medidas adotadas na zona do euro, a recuperação dos Estados Unidos e a expansão continuada das nações emergentes reduziram o risco de uma recessão global em 2012. Mas permanece elevada a possibilidade de a crise na Europa se agravar novamente, bem como de ocorrer uma escalada nos preços do petróleo, devido às tensões com a política nuclear do Irã. Os dois eventos recolocariam o planeta em turbulência e forçariam uma desaceleração mundial.Na edição anterior do relatório, de janeiro, o FMI alertara que a situação na zona do euro era crítica e ameaçava jogar o mundo em recessão, exigindo ação imediata. A partir de daí, houve injeção de liquidez no sistema financeiro pelo Banco Central Europeu (BCE, que passou a refinanciar operações de longo prazo), reestruturação da dívida da Grécia, aprovação de novas políticas fiscais na Itália e na Espanha e aumento do teto dos fundos europeus de contenção de crise e estabilidade financeira (os chamadosfirewalls), para 800 bilhões.
- As coisas se acalmaram desde então, mas uma calma apreensiva continua. Existe a sensação de que em algum momento as coisas podem muito bem ficar ruins de novo - afirmou Blanchard.
A apreensão deve-se principalmente à vulnerável situação europeia. O dilema central é o equilíbrio da política fiscal. Esta não deve ser dura demais no curto prazo, para não asfixiar ainda mais as economias, mas tem que ser austera o suficiente para reduzir déficits orçamentários e o endividamento.
- A questão fiscal fica ainda mais complicada porque os mercados parecem esquizofrênicos, requisitando consolidação fiscal, mas reagindo adversamente quando a consolidação leva a um crescimento mais lento - disse Blanchard.
Pelas novas projeções do FMI, a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) global este ano será de 3,5%, 0,2 ponto percentual acima da previsão de janeiro, mas ainda distante dos 4% estimados em setembro do ano passado. Para 2013, mantido o cenário básico de recuperação gradual e descartado um pouso forçado da China, a expansão mundial será de 4,1%, contra previsão de 4% três meses atrás.