As atenções dos investidores estão voltadas para o evento que acontece hoje no Estado de Wyoming, interior dos Estados Unidos, num vale conhecido como Jackson Hole, que já serviu de cenário para o filme "Brokeback Mountain". Nessa paisagem bucólica, os presidentes dos principais bancos centrais do mundo se reúnem anualmente para discutir a situação da economia. Há uma semana não se fala em outra coisa senão no discurso de Ben Bernanke, o todo-poderoso presidente do Fed, o banco central da maior economia do mundo.
Porém, as apostas de que Bernanke dará novo alento aos mercados nesta sexta-feira começaram a cair por terra ontem. Alguns investidores agora acham que ele não dirá nada excepcional, ao contrário das expectativas formadas ao longo da semana, de que poderia indicar novas medidas de estímulo para a economia americana já em setembro. Se de fato Bernanke não anunciar nada, a reação negativa dos mercados tende a ser forte.
Na Bovespa, os investidores monitoram Jackson Hole e também prestam atenção ao noticiário corporativo e às surpresas do governo Dilma Rousseff. Como a Medida Provisória (MP) 577, que estabelece procedimentos para a extinção de concessões de companhias de energia elétrica. A medida derrubou os papéis do setor: Transmissão Paulista PN (-7,31%); Cesp PNB (-6,07%); Eletrobras ON (-4,83%); Eletrobras PNB (-4,31%); e Cemig PN (-3,63%).
Pelo texto da MP 577, o governo poderá reassumir empresas de energia que sofram intervenção da Aneel ou cujas concessões caduquem. Além do vencimento por tempo de concessão, a MP também prevê que o governo pode decretar caducidade no caso de empresas consideradas ineficientes.
"A medida provisória define o procedimento administrativo que o governo irá adotar para reaver as concessões, especialmente das estatais. Com isso, o governo tira o poder de barganha que essas empresas tinham até agora, pois a MP permite que as usinas continuem operando com os atuais funcionários, com a energia sendo vendida ao custo de produção", explicou o analista de energia da BES Securities, Gabriel Laera. Raciocínio similar também vale para os segmentos de distribuição e transmissão.
A própria presidente Dilma declarou ontem, durante a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), o Conselhão, que o governo anunciará na semana que vem o pacote de revisão das concessões do setor. As medidas reduzirão o custo da energia por meio da desoneração de tributos.
Outra surpresa negativa do dia foi Natura ON (-4,48%, a R$ 51,10). Os papéis sofreram com notícia divulgada pelo serviço Debtwire, do "Financial Times", de que os controladores da companhia de cosméticos preparam uma nova venda de ações no mercado. Procurada, a Natura disse que não comenta rumores. Na outra ponta da bolsa, HRT ON disparou 22,64%, maior alta de toda a bolsa. Conforme informou o Valor ontem, um grupo de fundos pretende tirar seu fundador, Marcio Mello, do comando dos negócios. Há suspeitas de que a companhia seja alvo de oferta hostil. O Ibovespa recuou 0,20%, encerrando aos 57.256 pontos.
Ontem os principais índices acionários americanos recuaram, já sob efeito da ala de investidores céticos sobre o discurso do presidente do Fed. A bola passaria automaticamente para o Banco Central Europeu (BCE), que se reunirá na próxima quinta-feira para buscar novas saídas para a crise local. E por falar em BCE, Mario Draghi, presidente da instituição, abriu mão de visitar a paisagem bucólica americana para ficar com seus colegas europeus trabalhando em cima do plano de recompra de bônus.