A escalada dos preços do milho e da soja em função da quebra de safra nos Estados Unidos deve perder força em setembro, avaliam economistas, e por isso a expectativa é que o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) se desacelere em relação à alta de 1,43% registrada em agosto. De acordo com a média das estimativas de dez consultorias e departamentos econômicos de instituições financeiras consultados pelo Valor Data, o índice deve subir 0,9% em setembro, com intervalo de projeções entre 0,8% e 1,02% de avanço. O resultado oficial será divulgado hoje pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
No mês passado, a soja e o milho se destacaram como as principais pressões no atacado, ao subirem 10,72% e 20,33%, respectivamente, refletindo o choque de oferta causado pela seca que afetou a colheita desses produtos nos Estados Unidos. "Agora, a tendência é de acomodação. Pode ser que haja uma devolução de parte das altas acumuladas nas últimas semanas, mas ainda é cedo para dizer", observa Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria.
Pelas leituras mais recentes dos IGPs com diferentes períodos de coleta, é possível notar que os reajustes de preços dos alimentos, no atacado, estão perdendo fôlego. No IGP-M de agosto, por exemplo, os produtos agropecuários subiram 6,07%, variação que passou a 5,19% no IGP-DI e a 3,83% no IGP-10 deste mês. A Tendências projeta que no IGP-M de setembro a alta será de 2,70%.
Fabio Romão, economista da LCA Consultores, calcula que o preço do milho deve recuar 0,77% na leitura de setembro do IGP-M, enquanto a soja ainda terá avanço forte, de 3,99%, embora bastante inferior ao observado no mês anterior. "A alta dos alimentos no atacado é menor, mas ainda significativa. Começamos a perceber pressões que têm importantes desdobramentos no resto da cadeia", afirma o economista, referindo-se a bovinos, que de deflação de 1,2% em agosto deve passar a aumento de 3,2% neste mês, estima Romão.
Os produtos industriais, na avaliação da consultoria, também devem apresentar aceleração de preços, com a alta chegando a 0,64% em setembro, ante avanço de 0,47% no mês anterior, devido a pressões em diversos segmentos, como têxteis, couro e calçados, em decorrência da troca de coleções - o que também deve ter efeito sobre os preços ao consumidor.
Além disso, Romão destaca que há a expectativa de deflação menos intensa em minério de ferro. Após a queda de 3,35% na commodity em agosto, ele considera natural que as reduções de preços sejam menores neste mês. Priscila Godoy, da Rosenberg & Associados, faz a mesma avaliação. "Se houver alguma queda de preços do minério, será residual", diz a economista ao ressaltar que os preços da matéria-prima já começaram a subir no mercado internacional. Os produtos industriais, estima a Rosenberg, devem avançar 0,57% em setembro.
A Tendências, no entanto, acredita que os industrializados devem contribuir para que a inflação no atacado seja menor neste mês do que em agosto. A alta estimada pela consultoria para o IPA, de 1,01% em setembro, abaixo da elevação de 1,99% em agosto, embute também menor pressão por parte desses itens. As contas da consultoria indicam aumento de 0,40% no grupo de industrializados em setembro, ante a alta de 0,47% vista em agosto. "Hoje, o que estamos percebendo no atacado é que a alta dos grãos está sendo minimizada pela queda do minério de ferro." A partir de outubro, haverá uma reversão, uma vez que o minério de ferro voltou a subir no mercado internacional e os grãos tendem a se acomodar, diz Campos Neto. "Mas, nesse jogo de forças, o alívio dos grãos deve prevalecer e permitir que o IPA continue desacelerando."
Se a expectativa para os preços no atacado é decrescente, para o varejo a previsão é oposta. O impacto do aumento de produtos como milho e soja, afirma o economista da Tendências, apenas começou a chegar ao consumidor, devendo levar o Índice de Preços ao Consumidor - Mercado (IPC-M) a 0,50% neste mês. Em agosto, a alta foi de 0,33%.
A LCA, por sua vez, espera avanço de 0,53% no indicador do varejo em setembro, com alimentos pressionados principalmente pelas carnes, cuja previsão é de aumento de cerca de 2,5% neste mês. "Os alimentos são os grandes direcionadores da inflação no varejo, mas há outras pressões", diz Campos Neto, da Tendências, destacando principalmente vestuário.
Apesar dos preços ao consumidor mais altos, a diluição dos reajustes em produtos agropecuários observada no início do segundo semestre, diz Priscila, deve fazer com que o IGP-M continue a se desacelerar nas próximas leituras e encerre o ano com alta acumulada de 8,5%. A projeção está em linha com a média das estimativas de dez economistas consultados pelo Valor Data, que projetam avanço de 8,19% do índice neste ano.