Mas há dúvidas sobre fôlego da recuperação. IBGE divulga resultado amanhã
A economia brasileira entrou em recuperação no primeiro trimestre do ano, como apontam as projeções de economistas, mas ainda há dúvidas sobre a sustentação desse crescimento nos próximos meses. As estimativas para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) no primeiro trimestre frente ao quarto trimestre, já descontados efeitos sazonais, variam de 0,6% a 1,1%. Se o desempenho no trimestre superar 0,9%, será a maior expansão, nesta comparação, desde o quarto trimestre de 2010 (0,9%).
O IBGE divulga amanhã o resultado do PIB nos três primeiros meses de 2013. O IBC-Br, índice calculado pelo Banco Central que serve como uma prévia do PIB, apontou crescimento de 1% da economia no primeiro trimestre, na comparação com os últimos três meses de 2012.
"Não será um ano brilhante"
Em relação ao primeiro trimestre de 2012, as previsões dos analistas do mercado variam de um crescimento entre 2,1% e 2,5%.
- Temos em curso uma clara recuperação da economia. Pode até haver uma certa frustração quanto ao ritmo, mas há uma combinação de eventos que indicam uma economia mais forte - afirma o economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani, que prevê alta de 1% do PIB entre janeiro e março, em relação ao período entre outubro e dezembro.
A combinação de eventos citada por Padovani inclui uma expansão forte da agricultura - que no primeiro trimestre do ano passado teve quebra de safra -, aumento da produção de caminhões (com base fraca no início do ano passado, em função da mudança nas regras de fabricação de motores), redução das incertezas globais, recuperação do mercado de crédito e uma reação dos investimentos. Há ainda, cita Padovani, estímulos fiscais e monetários - mesmo com a recente retomada da alta de juros pelo Banco Central, a taxa básica ainda está abaixo do ponto de equilíbrio, diz o economista.
- São fatores importantes para desenhar o quadro de retomada - completa Padovani.
Na avaliação do economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, a economia entrou em recuperação, mas 2013 "não será um ano brilhante". Ele projeta uma expansão de 1,1% do PIB no primeiro trimestre, frente ao trimestre anterior, puxada por uma alta de 4,6% dos investimentos.
- O investimento estava em um nível extremamente baixo, então qualquer movimento é importante. O primeiro trimestre não teve um desempenho uniforme da economia, houve altos e baixos. O nível de crescimento pode até ser o mais alto do ano - diz Gonçalves.
Há quem reconheça a melhora do desempenho da economia no primeiro trimestre, mas tema pela manutenção deste ritmo de atividade.
- Devemos experimentar uma melhora no ritmo do crescimento, impulsionado pelo setor agrícola e pela produção de caminhões. Mas essa expansão não deve extrapolar pra os outros trimestres: a tendência é que o crescimento perca força ao longo dos trimestres, já que o espaço para estímulos do governo é bem menor - alerta o estrategista-chefe do WestLB no Brasil, Luciano Rostagno.
Preocupação semelhante tem a equipe do Itaú Unibanco. A estimativa para o primeiro trimestre é de alta de 1% do PIB, com ajuda de aumento de 6,8% em agricultura e de 5,5% do investimento.
"Um conjunto de dados mostra concentração do crescimento, não há disseminação suficiente nos indicadores de atividade para o crescimento do primeiro trimestre se sustentar adiante. Os primeiros sinais do segundo trimestre apontam para moderação do crescimento econômico", aponta relatório do banco divulgado ontem.
Mais cauteloso até mesmo em relação ao desempenho nos três primeiros meses de 2013, o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, prevê uma alta de apenas 0,6% do PIB no primeiro trimestre frente ao período anterior, ou seja, exatamente o mesmo patamar do quarto trimestre do ano passado.
- Um PIB de 0,6% não é exatamente ruim, mas a economia ainda mostra fragilidade, principalmente no setor externo. Temos avanços no setor agrícola, só que os dados do varejo recuaram - explica Perfeito.