O crescimento da economia do País está ameaçado pelos baixos níveis de poupança e de investimento. O alerta foi feito pelo presidente da Ordem dos Economistas do Brasil, Manuel Enriquez Garcia, durante a palestra “Os limites do crescimento econômico brasileiro”, proferida no encerramento do III Encontro de Economia do Espírito Santo e do II Encontro de Economistas da Região Sudeste.
Segundo Garcia, que também é presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP) e professor do Departamento de Economia da Universidade de São Paulo (USP), o governo federal vem adotando desde 2008 uma série de medidas, a exemplo da concessão de incentivos como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), para manter crescentes os gastos das famílias com bens de consumo duráveis. Contudo, ao trilhar por esse caminho, está abrindo mão de receita tributária e, como consequência, promovendo uma retração cada vez maior sobre a capacidade de poupança e também sobre a capacidade de investimento.
“Se não há poupança, não há como crescer no médio e no longo prazo, porque o crescimento de um país está fortemente alicerçado nos gastos de investimentos das empresas e nos gastos com infraestrutura por parte do governo”, advertiu Garcia. O professor explicou que essa política gera, de um lado, a queda da receita tributária de um governo que tem capacidade muito baixa de poupar e, de outro lado, o endividamento da família brasileira no longo prazo, ameaçando a existência futura de fontes de financiamento voltadas a investimentos.
Ineficaz
Como agravante, Garcia destacou que essa política não tem sido pontual. “Não foi uma política que veio e que foi rapidamente substituída por outra. Começou a ser implementada em 2008. Estamos em 2012 e ainda essa estratégia continua sendo mantida, ainda que se mostre ineficaz. E tanto o é que caminhamos para um aumento de apenas 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano – quando a expectativa era de 5% – e para um desaquecimento de 2,5% a 3% do setor industrial. Hoje temos leite para nossos netos, mas, permanecendo essa política, não o teremos daqui a dez anos.”
Mesmo preocupado com o limite ao crescimento ocasionado pela falta de poupança, Garcia se declarou otimista para os próximos cinco a dez anos, se uma ala do governo, “que clama pelo desenvolvimento”, conseguir implementar mudanças nos rumos que vêm sendo seguidos.
“É essa ala que está, a todo momento, reduzindo as taxas de juros pagas sobre os títulos da dívida pública, com o intuito de minimizar o impacto dos juros sobre as despesas do governo e abrir espaço para o aumento da poupança”, afirmou o economista.
Ele também acredita que o governo tenha intenção de firmar parcerias público-privadas (PPPs) após as eleições. “Na verdade, quer privatizar com outro nome – concessão –, mas as PPPs são necessárias para a criação de infraestrutura.” Na avaliação dele, se nesse bojo vier o capital estrangeiro, que não seja afugentado – sob o risco de não se ter crescimento econômico –, mas que sejam aplicadas as regras pré-existentes de controle de capitais.