Que o câmbio continuará sendo utilizado pelo Banco Central como ferramenta de controle inflacionário, o mercado parece não ter dúvida. A questão a saber agora é se a autoridade monetária continuará trabalhando para manter o dólar estável nos níveis atuais, entre R$ 2,02 e R$ 2,05, ou se buscará uma apreciação adicional do real. A resposta pode estar no vencimento bilionário em contratos e empréstimos lastreados em dólar previsto para o início de fevereiro.
Em 1º de fevereiro, vence o montante de US$ 1,85 bilhão em swaps cambiais tradicionais, contratos que equivalem à venda de dólares no mercado futuro. O BC recomprará ainda do mercado US$ 1,2 bilhão relativo a empréstimos na moeda americana por meio de leilões de venda de dólares com compromisso de recompra realizados em dezembro, para fazer frente à escassez de liquidez típica desse período.
Por ora, a expectativa é que o BC não faça a rolagem dessas operações, o que pode retirar do mercado o equivalente a pouco mais de US$ 3 bilhões. O gestor da FRAM Capital Roberto Serra lembra que com o vencimento do swap o mercado devolve os dólares ao BC, mas, para se manter "protegido", toma moeda no mercado à vista. "Com isso, o efeito líquido acaba sendo de compra de dólares", diz. Se o BC fizer a rolagem, apenas alonga a vigência do contrato, o que acaba mantendo os níveis de liquidez inalterados, acrescenta.
O que leva alguns profissionais de mercado a questionar os efeitos benéficos à inflação de uma nova rodada de apreciação cambial é o grau de repasse desse movimento aos preços. O próprio Banco Central já mostrou em documentos oficiais como no Relatório Trimestral de Inflação que os parâmetros associados ao repasse de variações cambiais para a inflação têm apresentado tendência declinante ao longo do tempo. Em 2011, por exemplo, os valores estimados atualmente para esses parâmetros corresponderiam à metade dos valores previstos até 2005.
A Link Investimentos, por exemplo, prevê que uma valorização de 10% do dólar elevaria o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, referência para o regime de metas de inflação do governo) em 0,4 ponto percentual. Mas, com uma desvalorização do dólar nessa mesma magnitude, o alívio no IPCA "ficaria abaixo disso", segundo o economista Thiago Carlos.
Na visão do ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas, a influência do câmbio na dinâmica dos preços se daria por meio de um aumento da capacidade produtiva da economia. "O dólar mais barato facilita o investimento. Se você investe mais, amplia a oferta. E o resultado de um aumento da oferta num cenário de demanda estável é menos pressão inflacionária", afirma.
Apesar de enxergar um viés de queda para o dólar, Thadeu de Freitas concorda que, no limite, o que a autoridade monetária quer é evitar o aumento da volatilidade cambial, algo que poderia contaminar ainda mais as expectativas para os preços. "Isso quer dizer que o BC não vai deixar o dólar subir muito rápido, mas também não vai deixar cair no mesmo ritmo", diz, mas não descartando que o BC possa retomar leilões de swap cambial reverso (que equivalem a uma compra de dólares no mercado futuro), caso a cotação da moeda americana ameace o piso de R$ 2,00.
A última vez que o BC usou esse instrumento foi no fim de outubro. A partir de novembro, a pressão de alta sobre o dólar levou a autoridade monetária a inverter a mão e atuar via leilões de swap tradicional. Em dezembro, o BC retomou as vendas de dólares via operações de linha, deu sequências às ofertas de swap tradicional e, junto com o governo, reverteu parte de medidas de controle de capital.
Ontem, A moeda americana recuou 0,29%, a R$ 2,031, menor cotação registrada desde o dia 10. Ao longo da sessão, a divisa chegou a cair abaixo de R$ 2,03, o que não se observava desde 8 de janeiro. Na semana, a queda acumulada do dólar é de 0,59%. Hoje não há negócios em São Paulo, dado o feriado de aniversário da fundação da cidade. Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o contrato de dólar futuro para fevereiro caiu 0,19%, indicando a moeda a R$ 2,0335.
As taxas de juros negociadas na BM&F subiram, algumas para níveis recordes. Instituições financeiras que apostavam em novos cortes da Selic, como Itaú Unibanco, Citibank e Barclays, revisaram os cenários e passaram agora a projetar estabilidade da taxa básica. O juro projetado no contrato com vencimento em janeiro de 2014 subiu para 7,25% ante 7,18% registrada na véspera.