Desde que o Banco Central (BC) retomou os leilões de swap cambial - que equivalem a uma venda de dólar no mercado futuro - para amenizar o movimento de alta da moeda americana, as expectativas para a taxa de câmbio no fim de 2013 apenas aumentaram.
O BC voltou a ofertar swaps em 31 de maio e o dólar para o fim do ano, captado pela pesquisa Focus, subiu de R$ 2,03 (pesquisa de 24 de maio) para R$ 2,25 na consulta feita em 26 de julho - última disponível. Em dois meses, portanto, a expectativa para taxa de câmbio saltou quase 11%.
Claro que a mudança de expectativas tem relação com a alteração de cenário, que foi forte em junho depois que o Federal Reserve (Fed), banco central americano, acenou a possibilidade de retirada de parte dos estímulos monetários até o fim do ano. Mas até que ponto as intervenções do BC não influenciam a formação das expectativas dos agentes de mercado?
Uma boa pista pode ser extraída de recente estudo do economista-sênior do Banco de Compensações Internacionais (BIS), Ken Miyajima. Depois de avaliar intervenções e projeções de câmbio em quatro países emergentes - Brasil, Peru, Coreia e Malásia - ele chegou à conclusão que as atuações dos Bancos Centrais visando conter movimentos de apreciação e depreciação ou a volatilidade têm pouca influência na construção das expectativas de curto prazo para o preço da moeda. E, além de não afetar as perspectivas, as atuações podem ter efeitos colaterais, como o aumento da volatilidade.
O estudo chama atenção para o fato de que as atuações que buscam conter movimentos direcionais da taxa de câmbio ou a volatilidade levaram as expectativas a se mover na direção oposta à pretendida pelo Banco Central. Nas vezes em que a autoridade monetária comprou dólares para conter a apreciação da moeda, as expectativas passaram a apontar mais apreciação. Já quando o BC vendeu moeda para conter a depreciação, as expectativas mostram uma moeda ainda mais depreciada.
"Uma interpretação do resultado é que a intervenção não muda a expectativa de câmbio de curto prazo. Alguns estudos apontam que a atuação do BC pode ter o efeito desejado no mercado à vista. No entanto, como as expectativas não se alteram significativamente, o esforço para limitar os movimentos de câmbio vão meramente postergar uma necessária apreciação ou depreciação", diz o autor.
Uma segunda interpretação é que a compra de dólares por um BC pode chamar ainda mais capital externo, levando a expectativa de mais apreciação da moeda. Um dos argumentos pode ser que a compra de dólares pelo BC representa um atrativo ponto de entrada no mercado emergente. Outra justificativa é que o aumento das reservas, por exemplo, melhora a percepção da qualidade de crédito do país, deixando-o mais atrativo.
"Nossas descobertas sugerem que a intervenção pode elevar a volatilidade da taxa de câmbio uma vez que as atuações podem amplificar expectativas já existentes e os fluxos de capital", conclui o autor.
O estudo "Foreign Exchange Intervention and Expectation in Emerging Economies" foi publicado em junho. E está em www.bis.org/publ/work414.htm. A visão do trabalho é do autor e não necessariamente do BIS.