O Banco Central elevou ontem a taxa de juros básicos da economia em 0,5 ponto porcentual para 9% ao ano, sacramentando o ciclo de maior aperto monetário do governo Dilma Rousseff. Segundo comunicado do BC, a medida deve contribuir para colocar a inflação em declínio e assegurar a trajetóría de baixa em 2014. A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do BC, " foi tomada por unanimidade.
O comunicado foi idêntico aos divulgados nas reuniões anteriores de maio e julho. Para os analistas de mercado, este é um sinal que o BC prepara nova alta dos juros.
"A decisão e o comunicado indicam que o BC deverá manter a magnitude de elevação do jurobá-sico em outubro, quando deve elevar taxa para 9,50%", disse Tony Volpon, diretor de pesquisas para a America Latina, da Nomura Securities.
Segundo a pesquisa semanal Focus, feita pelo BC, com mais de 100 instituições financeiras, os analistas esperam um aumento de 0,5 ponto porcentual na reu-
nião de outubro.
Nos últimos dias, porém, têm crescido as apostas por uma dose maior de juros diante do impacto da alta do câmbio na inflação.
Levantamento realizado pelo serviço AE Projeções da Agencia Estado, revelou que 33 de 76 instituições financeiras consultadas já preveem taxa maior para o fim do ano - e 16 casas acreditam até em uma taxa de 10% ao ano ainda em 2013, o quej oga por terra a promessa do governo de que os juros não voltariam ao patamar de dois dígitos.
O receio de economistas com o impacto do dólar na inflação ocorre ao mesmo tempo que o índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), termômetro oficial da in-fiação no País, já se encontra em patamar alto, acima de 6%. O BC precisa perseguir uma inflação de 4,5% ao ano, com tolerância de dois pontos porcentuais para mais ou menos, para acomodar choques.
Esta é a segunda vez na gestão Dilma que o Copom adota a trajetória de alta da Selic. A primeira foi logo que a presidente tomou posse: em quatro decisões durante cinco meses, o BC aumentou em 1,25 ponto porcentual o juro básico, que passou de 11,25% para 12,50% ao ano. Agora também foi a quarta alta consecutiva em cinco meses, mas a elevação foi mais drástica, de 1,75 ponto porcentual, de 7,25% para 9% ao ano.
O novo patamar da taxa é exatamente o mesmo visto em abril do ano passado, quando a economia brasileira passava por um longo processo de corte de juro -- foram 10 seguidos durante um ano e dois meses. Os detalhes sobre o que levou o colegiado a tomar a decisão, amplamente esperada por analistas do mercado financeiro, serão explicados na quinta-feira da semana que vem, quando a ata da reunião será divulgada.
A maior curiosidade dos agen tes em relação ao documento é constatar quais são os prognósticos do BC para a inflação e o dólar, que, desde o último Copom, subiu 3,3% e fechou ontem cotado em R$ 2,346. As projeções do mercado para essas duas variáveis se deterioraram. E a piora das expectativas foi um dos destaques dados pelo BC 11a ata da última reunião do Copom. A reversão do mau humor, de acordo com o documento, seria fundamental para a melhora da economia.
A decisão sobre o rumo da Selic vem uma semana depois que o BC decidiu abastecer o mercado de dólares e passou a realizar leilões diários, num total de US$ 3 bilhões por semana. A expectativa é que estejam disponíveis até o fim do ano cerca de US$ 100 bilhões para os interessados. Ontem, Dilma disse que o BC possui "bala na agulha" para lidar com a alta do dólar.
O Estado de S. Paulo