Com a recuperação da produção industrial e o crescimento das vendas do comércio, a economia brasileira cresceu 0,89% no segundo trimestre, pelas contas do Banco Central (BC). O Índice de Atividade Econômica da autarquia (IBC-Br) aponta que o Produto Interno Bruto - PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país, cujo resultado oficial do segundo trimestre será divulgado pelo IBGE no dia 30 - deve mostrar aceleração, depois do crescimento de apenas 0,6% nos três primeiros meses do ano.
Porém, os especialistas avisam: o segundo trimestre deve ser o pico da expansão da atividade econômica em 2013. A expectativa é que os dados piorem até o fim do ano, a reboque da queda da confiança de consumidores e empresários, além de juros altos e dólar caro.
Pelos cálculos do BC a economia cresceu 1,13% em junho. É o melhor desempenho desde janeiro. Mesmo assim, frustrou as expectativas dos analistas, que previam cerca de 1,2%, segundo levantamento da Bloomberg. Eles começaram a refazer as projeções para o PIB do IBGE após a divulgação do IBC-Br. O Banco ABC, por exemplo, Brasil aposta que o crescimento do segundo trimestre ficará em 1,1%. Já a Austin Rating e o banco Mizuho (ex-WestLB) preveem avanço de 0,8%. O Itaú Unibanco e a Rosenberg Associados trabalham com expansão de 1% do PIB entre abril e junho.
- Os dados comprovam aceleração, mas o segundo trimestre deve ser o pico do crescimento. A gente deve ver desaceleração daqui para frente por causa da queda da confiança - previu Mariana Hauer, economista do ABC Brasil.
câmbio e juros preocupam
A expectativa é compartilhada pelo economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio, Carlos Thadeu de Freitas, que é ex-diretor do BC. Ele ainda acrescenta dois ingredientes para a desaceleração: a alta da taxa básica de juros (Selic) e a disparada do dólar.
- A economia vive um momento de recuperação da indústria e tem desempenho razoável com o comércio, mas isso reflete o passado e não o futuro, que é incerto por causa do câmbio e da alta de juros.
Segundo o especialista, a alta dos juros inibirá o consumo, mas a incerteza maior para a economia vem do câmbio. Ele lembra que o BC não está conseguindo conter a alta da moeda americana. E que ninguém espera uma atitude mais incisiva neste sentido.
O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, frisa que, no primeiro trimestre, enquanto o "PIB do BC" apontou para um crescimento de 1,1%, o resultado oficial, do IBGE, ficou em 0,6%.
- O que o dado do BC mostra é uma perda de fôlego da economia, que tem a ver com todo o cenário atual: inflação alta e fraqueza do modelo de crescimento pelo consumo - criticou. - O ambiente de insatisfação gerado pelas manifestações desde junho já afetou a agenda, levando o governo a dar mais foco à política que à economia. E, entre os empresários, tira o foco dos investimentos.
economistas reduzem projeções
Agostini acrescentou que sua projeção de 2,4% de alta para o PIB deste ano será revista e muito provavelmente para um patamar inferior a 2%. Na semana passada, o Itaú Unibanco já reduziu sua expectativa, de 2,3% para 2,1%. E, esta semana, o HSBC baixou de 2,4% para 1,9%.
O IBC-Br foi criado pelo BC para balizar as diretrizes da política de juros. Como o dado oficial de crescimento é muito defasado, o cálculo do BC tenta medir o comportamento da economia.
Segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), a probabilidade de o país mergulhar numa recessão é de 40% hoje, contra 35% de chance do início de 2011, quando a economia sofreu brusca desaceleração. Com o agravante de que a conjuntura atual é menos favorável a ações do governo para estimular a atividade - como o corte de juros ou impostos, medidas que foram bem sucedidas há dois anos. A avaliação é do economista Paulo Picchetti, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV.
A estimativa da FGV resulta de um modelo estatístico com base no Indicador Antecedente Composto da Economia (Iace), divulgado ontem, que teve recuo de 1,84% em julho. O Iace apresentou queda pelo quarto mês seguido (recuara 0,4% em junho, 0,9% em maio e 0,2% em abril), comportamento que, na visão de Picchetti, indica um claro processo de desaceleração para os próximos meses. O Iace é elaborado pela FGV e pelo The Conference Board.
- Na verdade, o quadro é pior. Nos últimos seis meses, só em março o Iace não caiu - diz o economista, cauteloso ao falar do risco de uma recessão: - A tendência recessiva ainda pode ser revertida, só que o grau de liberdade da política econômica não é mais o mesmo de 2011. Os estímulos fiscais se esgotaram e há ainda forte preocupação com as contas públicas, e a inflação impede novo ciclo de baixa dos juros para estimular o consumo.