O mercado já sabia que a quarta-feira seria emocionante, mas certamente não esperava tanta volatilidade. Inicialmente, as ações e os Treasuries reagiram em alta ao depoimento do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, no Congresso. O discurso foi considerado "dovish" (mais favorável aos estímulos monetários).
Contudo, os ativos devolveram os ganhos quando, em resposta a uma pergunta de um congressista, Bernanke disse que o Fed pode decidir reduzir as compras de bônus "nos próximos encontros", caso os indicadores econômicos continuem a melhorar.
Embora tenha alertado que uma redução nas compras não significará que o Fed começou um movimento em direção à saída, o mercado de Treasuries sofreu reviravolta, com acentuada e rápida queda dos preços, que projetaram os juros das T-notes de dez anos para acima de 2% pela primeira vez em mais de dois meses. As ações também perderam força, com S&P-500 e o Nasdaq recuando para território negativo, enquanto o Dow Jones sustentava leve alta.
A capitulação definitiva das bolsas veio no meio da tarde, com a divulgação da ata da reunião do comitê de política monetária realizada em 30 de abril e 1º de maio. O documento mostrou que "um número de membros expressou disposição" em reduzir o afrouxamento monetário já a partir da reunião de junho, se os indicadores econômicos recebidos até lá mostrarem evidências de crescimento forte e sustentado. Contudo, não há consenso entre os membros do Fed sobre quais evidências seriam necessárias.
O movimento externo foi acompanhado de perto pela Bovespa, mas em menor intensidade. A bolsa brasileira se descolou apenas na última hora de pregão, fechando em alta pelo quarto pregão seguido. Os papéis do setor elétrico lideraram as altas pelo segundo dia seguido. As "blue chips" Petrobras e Vale ficaram entre as principais baixas do dia, mas reduziram as perdas no fechamento.
"O mercado está tentando entender o pensamento do Fed", avalia o estrategista da Futura Corretora, Luis Gustavo Pereira. "Ainda não está claro se uma redução nos estímulos acontecerá em junho ou mais à frente. A divergência entre os membros do Fed está grande. Por enquanto, a manutenção [do programa de compras de títulos] está vencendo."
O Ibovespa subiu 0,29%, para 56.429 pontos, com volume elevado de R$ 8,256 bilhões. Foi o quarto pregão seguido de alta da bolsa brasileira, que passou a acumular ganhos de 2,3% na semana, 0,9% no mês e 0,1% no trimestre.
Em Nova York, o índice Dow Jones caiu 0,52% e fechou aos 15.307 pontos, depois de ter marcado a máxima histórica de 15.542 pontos. O S&P-500 recuou 0,83%, para 1.655 pontos, mas antes alcançou o recorde de 1.687 pontos. O Nasdaq Composite caiu 1,11%, para 3.463,30 pontos.
Entre as ações mais negociadas por aqui, Vale PNA registrou baixa de 1,37%, a R$ 30,94; Petrobras PN caiu 1,58%, a R$ 19,92; e OGX ON subiu 2,87%, para R$ 1,79. Na ponta positiva do Ibovespa apareceram várias elétricas: Eletrobras PNB (7,53%), Eletrobras ON (7,37%), Light ON (4,39%), Energias do Brasil ON (3,46%) e Transmissão Paulista PN (3,46%).
As ações do setor de energia iniciaram a escalada a partir da divulgação dos balanços do primeiro trimestre, que trouxe números menos piores que o esperado, apesar da redução nas tarifas imposta pelo governo no início do ano. Além disso, os investidores especulam que o governo poderá anunciar medidas de estímulo ao investimento no setor, como forma de compensar as perdas com as novas regras de concessão de usinas e redução de tarifas, anunciadas em setembro do ano passado.