O cenário para o Ibovespa se deteriorou no curto prazo. Na primeira semana de junho, o saldo de capital externo ficou negativo em R$ 4 bilhões, a agência de classificação de risco Standard & Poor"s (S&P) rebaixou a perspectiva da nota do Brasil e os mercados internacionais ficaram estressados com a possibilidade de redução de programas de alívio monetário pelos principais bancos centrais do mundo. Mas o estresse do momento ainda não é visto por analistas como motivo suficientemente forte para provocar revisões para baixo nas projeções para o principal índice da bolsa brasileira.
Ontem o Ibovespa caiu 3,01%, aos 49.769 pontos, menor patamar desde 8 de agosto de 2011. O giro foi de R$ 8,317 bilhões.
Segundo especialistas, alterações de perspectivas levam em conta consolidações de cenários e, portanto, podem demorar para acontecer. No entanto, algumas instituições se anteciparam ao quadro desfavorável e reduziram suas projeções para o Ibovespa.
É o caso de BB Investimentos, Ágora e Citi, que rebaixaram suas previsões para o Ibovespa antes mesmo de a situação piorar. As novas previsões ficam muito próximas, entre 62 mil pontos e 63 mil pontos. O nível indica uma alta no ano de no máximo 3,3%. Mas uma recuperação de mais de 26% em relação ao nível atual.
Nataniel Cezimbra, chefe da equipe de pesquisas do BB Investimentos, diz que os balanços das empresas estão entre os três principais fatores que forçaram mudanças nas projeções. Os outros dois são as análises gráfica e macroeconômica. "Claro que o estresse do mercado preocupa, mas não sabemos se o cenário negativo persistirá o suficiente para provocar mudanças nos resultados das empresas", afirma. O BB Investimentos rebaixou sua projeção para o Ibovespa de 70 mil pontos para 63 mil pontos, no final de abril, depois da safra de balanços do quarto trimestre de 2012.
Mesma visão tem o estrategista de varejo da Bradesco e da Ágora Corretora, José Francisco Cataldo. "O Ibovespa passa por um momento de aversão a risco que não deve perdurar até o final do ano", afirma. Ele também lembra que, mesmo com um crescimento mais fraco do PIB, de 2%, a expansão da economia ainda será mais forte que no ano passado. Cataldo reduziu a projeção no começo de junho, de 72 mil para 62 mil pontos. Ele citou desempenho econômico tímido, inflação e alta dos juros.
O Citi Research fez seu corte em meados de maio, passando de 65 mil pontos para 63 mil pontos e mantém essa projeção, por enquanto. Balanços também foram responsáveis pela revisão. No relatório divulgado à época, os analistas Stephen Graham e Nicolas Riva afirmavam que, de 74 companhias passíveis de investimento no IBX-100 que possuem estimativas de ganhos da casa ou consenso disponível, 39 tiveram lucros desapontadores no primeiro trimestre.
Ño pregão de ontem, OGX ON (-9,3%) foi destaque de baixa, marcando mínima histórica, a R$ 1,17. As ações da empresa de petróleo de Eike Batista reagiram à notícia de que o empresário vendeu 2% do capital da companhia em operações na bolsa no mês passado.
O Valor apurou que Eike precisou fazer caixa devido a uma chamada de margem de garantias por conta de um empréstimo contraído com o banco Itaú. Questionado pela reportagem, o grupo EBX classificou a informação como "incorreta, imprecisa e leviana". Já o Itaú não quis comentar o assunto.
As vendas somaram R$ 121,8 milhões e foram realizadas nos dias 24, 27, 28 e 29 de maio, antes da conclusão da compra de 24,5% da MPX (empresa de energia do grupo) pela alemã E.ON, no dia 29 de maio. Nessa operação, Eike recebeu R$ 1,4 bilhão.
Nesta quarta, a volatilidade persistirá na bolsa em função do vencimento de índice futuro e opções sobre Ibovespa.