A Bovespa cedeu à realização de lucros ontem, pressionada pela queda de ações de peso, como Petrobras, Vale e Usiminas. Ainda assim, a bolsa brasileira caminha para fechar seu primeiro mês em alta neste ano, acumulando ganho de 2,3% até ontem.
Além de ter alguma "gordura para queimar", após a forte alta de 8,5% nas duas últimas semanas, analistas afirmaram que a Bovespa sentiu ontem o aumento da aversão ao risco nos mercados internacionais às vésperas da reunião do Fed (BC americano) e da divulgação do dado de crescimento da economia (PIB) dos EUA e do indicador de atividade industrial (PMI, na sigla em inglês) da China, que saem nos próximos dias.
"Voltou a tensão. Estão todos à espera do [presidente do Fed, Ben] Bernanke", comentou o estrategista da Fator Corretora, Paulo Gala. "A bolsa vinha subindo, dólar e juros caindo até o meio da semana passada, quando saíram dados preliminares de atividade na China e Estados Unidos. De lá para cá, parece que a aversão ao risco aumentou de novo, o que afeta os mercados aqui", afirma.
Chamou atenção ontem o aumento do volume negociado, que superou a casa dos R$ 6 bilhões, algo que não acontecia desde o dia 17, quando Bernanke reafirmou que o BC americano deveria manter os estímulos à economia por mais algum tempo. Segundo operadores, as ações do setor financeiro impulsionaram os negócios por conta da divulgação dos balanços trimestrais de Itaú e Santander.
O Ibovespa terminou em baixa de 1,32%, aos 48.561 pontos, com volume de R$ 6,318 bilhões. Entre as ações de maior peso, Vale PNA recuou 1,86%, a R$ 28,36, enquanto Petrobras PN perdeu 1,31%, para R$ 16,46. Itaú PN (0,79%) e Santander Unit (1,24%) figuraram entre as maiores altas.
O Itaú teve lucro recorrente de R$ 3,622 bilhões no trimestre, 1,3% acima do mesmo período do ano passado e em linha com a expectativa dos analistas ouvidos pelo Valor. O Santander, por sua vez, lucrou R$ 501 milhões, quase 10% a menos do que no mesmo trimestre de 2012, mas acima das projeções do mercado.
Apesar dos resultados positivos, Gala, da Fator, chamou atenção para a tendência de desaceleração na concessão de crédito das instituições a médio prazo. "Mesmo com a alta da Selic, o cenário é difícil. Por um lado, o juro mais alto melhora a rentabilidade, mas por outro dificulta a expansão."
O Itaú reduziu a expectativa de crescimento da carteira de crédito total para a faixa de 8% a 11%, ante a projeção anterior de 11% a 14%. O Santander espera uma expansão de 9% de sua carteira de crédito neste ano.
Souza Cruz ON (-4,79%) foi destaque entre as maiores baixas. A empresa de cigarros divulgou lucro líquido de R$ 435,7 milhões no segundo trimestre, com alta de 9,2% sobre igual intervalo de 2012. O Credit Suisse considerou o resultado "fraco", com queda de receitas, causada por aumento de preço e mudança no mix de vendas.
"Mais uma vez, altas nos preços estão levando volume ao mercado ilegal, resultando em perdas de participação de mercado para a Souza Cruz." O J.P. Morgan comentou que o resultado coloca em xeque o prêmio pago pelas ações, que são negociadas hoje a 21 vezes o indicador preço/lucro (P/L).