O cenário externo mais azedo com as declarações do ex-premiê da Grécia, Lucas Papademos, que ontem alertou para o risco de o país deixar o euro pode agravar o temor dos analistas brasileiros quanto a pressões inflacionárias decorrentes de repasses da taxa de câmbio nos preços. Mas, por ora, prevalece a percepção de que a crise europeia, a fragilidade da economia internacional e também a atividade doméstica contribuem para que a inflação brasileira perca impulso.
Roberto Padovani, economista-chefe da Votorantim Corretora, concorda que a fraqueza da atividade doméstica contribui para uma inflação melhor. Mas argumenta que os preços agrícolas e a inflação de serviços devem dificultar uma convergência mais rápida em direção ao centro da meta. Ele explica que a depreciação cambial tende a elevar os riscos inflacionários, mas não acredita que isso imponha necessariamente limites para queda do juro. "As informações mais recentes, tanto do cenário externo quanto doméstico, não devem ter provocado mudança na estratégia do BC. Novos cortes devem ser realizados com parcimônia", comenta Padovani que alerta adicionalmente para os dados sobre as economias da Europa, Estados Unidos e China. Se essas economias sinalizarem um ritmo de atividade emperrado - em especial em relação à demanda agregada e ao emprego - pode haver um afrouxamento mais forte.
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, considera que a atividade fraca colabora para maior tranquilidade com a inflação. "Não é garantia de que o país está livre do problema inflacionário, mas apenas que o governo Dilma foi brindado por uma sequência de anos de baixo crescimento mundial que é deflacionista e ajudará a conter a expectativa inflacionária doméstica." Ele trabalha com Selic de 8% a partir da semana que vem, mas reconhece a possibilidade de um corte maior. Já estarão disponíveis para análise do Copom dados de inflação e atividade do segundo trimestre e deverão ser favoráveis a uma decisão expansionista do BC novamente. Embora trabalhe basicamente com a perspectiva de o BC agir com "parcimônia", Vale acredita que os esforços agora se concentrarão em como baixar o máximo possível a Selic. "Como há uma janela de oportunidade de fato por conta da sensação de piora da crise lá fora, o BC deverá aproveitar para tentar ser o mais agressivo possível", diz
Marcelo Arnosti, economista-chefe da BB DTVM, espera uma importante aceleração da economia doméstica ao longo do segundo semestre, refletindo a reação global; a alta das commodities; o efeito defasado das condições financeiras domésticas mais favoráveis, em particular o baixo juro real; o elevado nível de confiança dos consumidores e a robusta expansão da renda real; as recentes medidas de estímulo do governo. "Esperamos crescimento próximo a 1,5% nos dois trimestres restantes do ano, velocidade, portanto, acima do crescimento potencial da economia. Para o 2012, projetamos expansão de 3,0%."
Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, também vê Selic em queda de 0,50 ponto na semana que vem seguida de estabilidade até 2013, quando novo aperto dever ter início. "A cabeça do BC seria mesmo a de usar parcimônia no ajuste e promover cortes de 0,50 ponto. Mas tem um "if", que é o quadro lá fora", comenta Leal que recorda a informação de que o atual presidente do BC, Alexandre Tombini, membro da diretoria colegiada da instituição em 2008 teria visto que naquele momento o país teria perdido uma oportunidade para baixar o patamar dos juros. Ele (Tombini) não rasgou o sistema de metas de inflação", completa.