Os mercados de juros futuros e câmbio domésticos foram atingidos ontem por uma confluência de indicadores econômicos chineses e americanos desfavorável aos ativos emergentes. Na BM&F, os contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (DI) de vencimento mais distante, termômetro da aversão ao risco, subiram. Depois de dois pregões seguidos de queda, o dólar comercial voltou a fechar em alta em relação ao real, subindo 1,26%, para R$ 2,25.
A divulgação de dados fracos de indústria na China acentuou a desvalorização das moedas de países exportadores de commodities em relação ao dólar. O Índice dos Gerentes de Compras (PMI) para o setor industrial da China, medido pelo HSBC, caiu para 47,7 pontos na leitura preliminar de junho, menor nível em 11 meses.
Somaram-se aos dados chineses bons indicadores nos Estados Unidos. As vendas de imóveis residenciais novos nos Estados Unidos subiram em 8,3% em junho, para 497 mil (na taxa anualizada), acima da previsão dos analistas, que era de 485 mil. Esses números acentuaram a alta dos retornos ("yields") dos títulos do tesouro americano (Treasuries). O rendimento da T-note de 10 anos chegou a bater 2,621%, maior nível em duas semanas, desencadeando um realinhamento global dos mercados de moedas e renda fixa.
Segundo Marcelo Salomon, economista do Barclays para a América Latina, com os dados do setor de imóveis o mercado voltou a cogitar a possibilidade de o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) começar a reduzir os estímulos monetários a partir de setembro. Os investidores também puseram em dúvida a possibilidade de que a taxa básica americana, hoje próxima de zero, seja elevada apenas em 2015.
"Já havia um movimento de alta do dólar e dos Treasuries por conta dos dados chineses. Depois do número de imóveis, o yield dos Treasuries de 10 anos, que são um parâmetro importante para todos os ativos, subiram com mais força. E isso provocou uma abertura da curva de juros dos mercados emergentes, como o Brasil", diz Salomon.
Entre os contratos com vencimento mais distante, o DI para janeiro de 2017 - que apresenta forte correlação com a T-note de 10 anos - encerrou o pregão de ontem a 10,36% (ante 10,23% anteontem, após ajustes), interrompendo uma sequência de oito pregões de queda. O contrato com vencimento em janeiro de 2015 subiu e fechou a 9,34% (ante 9,28% anteontem). Além do realinhamento ao nível dos "yields" dos Treasuries, o contrato também reflete preocupações com a dinâmica da inflação em 2014. E a alta do dólar aumenta o temor de repasse cambial aos preços, o que pode contaminar as expectativas inflacionárias.
A depreciação do real também impediu que o DI com vencimento em janeiro de 2014 recuasse. O contrato iniciou os negócios em queda, mas com a alta do dólar a taxa do acabou pressionada, fechando a 8,76% (ante 8,74%).
Apesar da retirada da alíquota de 6% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) ter ajudado a atrair recursos externos para renda fixa desde junho, no câmbio a medida não teve grande impacto. Desde 4 de junho, quando o imposto foi retirado, o dólar acumula alta de 5,7%.
Dados divulgados pelo BC mostram que o fluxo cambial continua negativo, encerrando a semana passada com saída líquida de US$ 1,378 bilhão. O número é resultado de um déficit de US$ 1,309 bilhão na conta comercial e de uma saída líquida de US$ 70 milhões na conta financeira. No mês, o fluxo cambial está negativo em US$ 2,484 bilhões.
O BC realizou ontem a rolagem de mais 20 mil contratos de swap cambial (que equivalem à venda de dólares no mercado futuro), que somou US$ 992,8 milhões. Com isso, o BC rolou US$ 3,976 bilhões dos US$ 5,715 bilhões com vencimento em 1º de agosto.