O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem, em Washington (EUA), que o Brasil continuará intervindo no câmbio para forçar a desvalorização do real. O objetivo do governo é empurrar a cotação até o patamar de R$ 1,90, faixa que considera mais adequada para garantir a competitividade da indústria exportadora. A moeda norte-americana fechou o dia de ontem cotada a R$ 1,882, com valorização de 0,1%. É o quinto dia consecutivo de alta.
"Há relatórios mostrando que a intervenção do câmbio é eficaz e necessária. No nosso caso, ela é absolutamente necessária e nós vamos continuar fazendo", justificou o ministro, que está nos Estados Unidos para participar do Encontro de Primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial. Ele rebateu a afirmação da diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, de que os emergentes devem ajustar suas moedas se necessário ou aceitar a evolução do câmbio.
"Acho um equívoco. O Brasil é dos países que mais sofrem com a valorização do câmbio. Não estou falando apenas de recentemente, mas dos últimos anos. Nossa indústria tem perdido competitividade, em grande parte por causa da desvalorização das moedas dos outros países", criticou o ministro, em entrevista na sede do FMI, após a reunião com representantes do Brics (grupo que reúne, além do Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul). Ele não detalhou o que foi discutido no encontro.
Para ele, o Brasil está provando, na prática, a eficácia das intervenções no câmbio, uma vez que outros países estão usando a estratégia de desvalorização de suas moedas. "Com intervenções, podemos diminuir essa desvantagem que nossa indústria tem tido a partir do cambio valorizado", reforçou.
Segundo ele, o país sempre esclareceu sua posição em relação à desvalorização das moedas de alguns países, que gera forte fluxo de entrada de capital em países emergentes como o Brasil. "A cada reunião que nós fazemos, há uma tentativa de cercear esses movimentos de intervenção no câmbio, mas a maioria sempre acaba concluindo que está correta", afirmou.
Ao ser questionado se o Brasil não deveria também avançar em reformas estruturais para aumentar a competitividade da indústria, Mantega rebateu dizendo que "o Brasil nunca parou de fazer reformas". Ele sustentou que a cada mês tem uma. O ministro citou como última a criação do Fundo de Previdência Complementar para os servidores públicos. "Isso é uma grande reforma que vai dar sustentabilidade à Previdência. A desoneração da folha (de pagamentos da indústria) também é uma grande reforma", afirmou.
Além disso, disse que o Brasil está conseguindo reduzir não só a taxa Selic, mas as taxas vigentes em toda a economia, incluindo os spreads bancários.
Pedido dos governadores
Motivados pela redução dos juros por bancos públicos e privados, os governadores, agora, pressionam o governo para terem o mesmo benefício em relação às dívidas com o Tesouro Nacional. Seis governadores — o de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB), do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), de Alagoas, Teotônio Vilela (PSDB), da Bahia, Jaques Wagner (PT) e de Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD) — participaram ontem da reunião na Câmara dos Deputados que discutiu o endividamento estadual. "O governo reduziu os spreads nas operações dos bancos oficiais, e é isso que temos de fazer nas receitas públicas", disse Colombo. Já Alckmin defendeu a troca do indexador, que atualmente é o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Pelos seus cálculos, a troca faria com que a taxa de juros reais, que hoje é de 6% ou 7,5%, caísse para 2%.