Compradores e vendedores não parecem dispostos a se arriscar, e a cotação da moeda americana não consegue sair do lugar
Para operadores e economistas, essa apatia do mercado às oscilações do humor internacional e mesmo a eventos locais é reflexo das últimas atuações físicas e verbais do governo. Ontem, em mais um pregão morno, o dólar comercial fechou estável a R$ 2,037, depois de cair a R$ 2,034 (-0,14%) e subir a R$ 2,044 (+0,34%). Na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), o dólar para agosto caiu 0,12%, a R$ 2,0405.
O cenário para câmbio já foi explicitado pela Fazenda e pelo Banco Central (BC) e o "recado" dado é que a taxa de câmbio não "pode" ir abaixo de R$ 2,0 nem acima de R$ 2,10. E, por ora, o mercado não parece disposto a "testar" a disposição das autoridades.
De fato, desde que o diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Aldo Mendes, indicou que o BC poderia voltar a comprar dólares e que a moeda abaixo de R$ 2,0 não seria interessante para indústria, o mercado perdeu volatilidade. Tais declarações foram feitas no dia 3 de julho e o preço médio do dólar comercial desde então tem sido de R$ 2,031, com máxima a R$ 2,04 e mínima a R$ 2,024.
Antes da fala do diretor, o dólar tinha caído para baixo de R$ 2,0 pela primeira vez desde o fim de maio, reflexo de uma melhora de sentimento externo aliada a uma grande oferta de swaps (que equivalem à venda de dólar futuro) feita pelo BC no fim de junho. A percepção nas mesas é de que o preço só escapa da atual banda com alguma grande movimentação no quadro externo.
Também se espera alguma mudança de preço no fim do mês, conforme o BC deve vir a mercado rolar contratos de swap que vencem no começo de agosto. Ilustrando a baixa disposição dos agentes em ampliar ou mudar de posição, os estoques de derivativos cambiais na BM&F oscilaram entre US$ 250 milhões e US$ 300 milhões na semana passada. Os bancos encerram a segunda semana do mês vendidos em US$ 23,558 bilhões, os fundos locais estavam comprados em US$ 17,289 bilhões e os estrangeiros também estavam comprados, mas em US$ 4,365 bilhões.
De forma simplificada, os vendidos ganham com a queda do dólar e os comprados lucram com a alta no preço da moeda americana. No mercado de juros, a segunda-feira também foi de poucos negócios e movimentação inconclusiva. O economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, aponta que os investidores estão no aguardo da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), que sai na quinta-feira.
O documento poderá ratificar ou não o atual ensaio do mercado de colocar no preço uma redução de juro também no encontro de outubro do Copom. Na configuração atual, as taxas já embutem uma redução de meio ponto em agosto, que traria a Selic para 7,5% ao ano. O economista acredita que o BC pode dar alguma indicação de como será a política monetária depois de agosto.
De acordo com Rosa, esse aceno pode ser extraído da avaliação prospectiva que o BC fará da atividade. Se o tom melhorar, fica a impressão de que o ciclo está mais próximo do fim, o que pode reduzir as apostas de juro em 7%.