A situação financeira do Chipre e as exigências impostas pela União Europeia para socorrer financeiramente o país, causaram tumulto nos mercados internacionais ontem e deflagraram uma corrida por proteção. Isso sustentou a valorização do dólar ante a maioria de seus pares. No Brasil, a situação não foi diferente, e a moeda americana marcou sua sexta alta seguida, maior sequência desde junho de 2012, além de ter superado a cotação de R$ 1,99 pela primeira vez em mais de um mês.
Nos últimos seis dias até ontem, o dólar subiu 2,15%. No ano, a moeda ainda acumulada baixa de 2,64%. Apenas ontem, a divisa subiu 0,35%, a R$ 1,989, após bater R$ 1,991 na máxima do dia, maior nível desde 7 de fevereiro.
A influência do cenário externo, segundo o operador de um banco estrangeiro, foi compensada pelos fluxos de recursos no país, que segundo ele foram "bem equilibrados". No período da manhã, inclusive, o fluxo era positivo, disse o profissional.
"O dólar diminuiu a alta neste momento, com a entrada de cerca de US$ 250 milhões de uma grande empresa de capital aberto", disse. "Mas, como não teve entrada nova, o mercado preferiu tomar mais um pouco [de dólar], olhando para o exterior."
Em todo o mundo, a busca por proteção no dólar aumentou após a UE impor uma taxação de 10% sobre todos os depósitos bancários no Chipre como exigência para a liberação de um pacote de ajuda financeira ao país. Essa condição preocupa investidores dada a possibilidade de a medida ser aplicada a outros países da zona do euro que peçam socorro financeiro.
Segundo operadores, apesar de o câmbio brasileiro ter superado R$ 1,99 durante o pregão, o próprio mercado evitou puxar a moeda muito mais para cima para afastar a possibilidade de novas intervenções do BC caso o dólar se aproximasse demais de R$ 2. Mesmo que a tendência de curtíssimo prazo tenha passado a ser de alta, prevalece a convicção de que o BC continuará atuando para defender o piso de R$ 1,95 e o teto de R$ 2 de sua banda cambial informal.
A expectativa no mercado é que, caso seja obrigado a defender o teto de R$ 2, o BC realizaria novo leilão de swaps cambiais tradicionais, que têm efeito equivalente a uma venda de dólar futuro.
As taxas de juros projetadas na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) fecharam perto da estabilidade, em sessão de fraco volume. No começo do dia, a pressão de baixa foi puxada pela queda do rendimento dos títulos do governo americano, com a maior aversão a risco entre investidores preocupados com o Chipre. No Brasil, a cautela seguiu influenciada pelas dúvidas com a política monetária.
O boletim Focus, pesquisa semanal do BC com agentes de mercado, trouxe revisão para baixo nas projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2013, de 5,82% para 5,73%.
"A revisão das projeções de inflação reflete a recente decisão do governo de desonerar os produtos da cesta básica, em mais uma tentativa de controlar a trajetória dos preços", afirmou o economista-chefe da Concórdia Corretora, Flavio Combat.
Mas na mesma pesquisa, a estimativa para a Selic subiu de 8% para 8,25% em 2013. Operadores dizem que a ata do Copom, divulgada na quinta-feira, sinalizou um BC menos inclinado a promover um ciclo de aperto monetário na intensidade que os juros indicavam até a semana passada.