O Comitê de Política Monetária (Copom) conclui hoje a segunda etapa da reunião que definirá o rumo da taxa Selic. Esse é o primeiro encontro desde que o governo alterou as regras da caderneta de poupança e, com isso, abriu espaço institucional para que os juros caiam mais e rompam o menor nível da história. Mas é também a reunião que marca a volta da "parcimônia", palavra usada pelo Banco Central (BC) na ata da última reunião e que vem sendo repetida desde então em algumas manifestações públicas da autoridade monetária.
Em meio a esses dois vetores, o mercado tenta absorver ainda o maior alinhamento da política monetária à política econômica do governo, que elege outros instrumentos além do juro para incentivar a economia. Além disso, há a percepção de que a crise financeira europeia está com viés mais negativo e que há um conjunto de variáveis que tornam muito mais difícil prever o rumo dos juros e, de certa forma, dificultam o entendimento do que a autoridade monetária tenta sinalizar.
Como consequência, os juros futuros ganharam volatilidade na semana passada. O mercado reduziu drasticamente as projeções para o rumo da Selic e chegou a considerar até mesmo que o corte desta semana poderia ser mais modesto, de apenas 0,25 ponto percentual. Ontem as taxas mostraram alívio e a ideia de uma redução de 0,5 ponto percentual em maio e de outra de pelo menos 0,25 ponto em julho voltou a ganhar terreno.
Também se vê ajustes nas previsões dos economistas. Seis, de um total de 32 instituições consultadas pelo Valor em pesquisa pré-Copom, alteraram as projeções para a taxa Selic. Dessas seis, apenas duas mexeram na previsão para o juro básico que será anunciado hoje à noite pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Dos 32 analistas ouvidos, 28 esperam redução da Selic em 0,50 ponto percentual, para 8,50% ao ano a partir da quinta-feira; 3 contam com nova Selic a 8,25%; e 1 projeta 8,75% ao ano.
A Icap Brasil e o Modal foram as instituições da amostra do Valor que alteraram a projeção para a Selic que será definida amanhã à noite. A Icap reduziu a estimativa de corte de 0,50 ponto para 0,25 ponto percentual. E o Modal, cortou a previsão de 0,75 para 0,50 ponto. As outras quatro casas que promoveram revisão nas taxas - Tendências, Austin Rating, ABC Brasil e Rosenberg Consultoria - focaram o fechamento de 2012 e de 2013.
Inês Filipa, economista-chefe da Icap Brasil, alerta que o BC talvez esteja sinalizando via entrevistas ou eventos, que a "parcimônia" não seja de 0,50 ponto, mas de 0,25 ponto. "Neste momento há muitas incertezas e riscos provenientes da Europa, que terão um desenrolar apenas no fim de junho. É preciso considerar que o BC não tem a intenção de parar de cortar os juros, mas precisa alongar o ajuste, para que numa eventual piora do cenário - como a saída da Grécia da zona do euro e seus efeitos globais -, esteja apto ainda a alterar as taxas de forma mais agressiva se necessário, podendo levar a Selic a 7% ao ano", diz.
Para a economista da Icap, o corte de 0,25 ponto agora se justifica, entre outros motivos, porque mesmo sem interromper o processo de queda da Selic no curto prazo, um ajuste fino agora mantém a possibilidade de o Copom manter a correção por mais tempo. O que permite à autoridade monetária checar se a atividade mostra mesmo sinais de recuperação mais adiante.
Uma redução menor nesta reunião também poderia sinalizar ao mercado que o BC está mais cauteloso com a política monetária, confiante na economia, permitindo, mesmo marginalmente, uma menor pressão sobre o câmbio.
Felipe Tâmega, economista-chefe do Modal, reduziu a projeção de corte da Selic de 0,75 ponto percentual para 0,50 ponto por considerar que embora os dados de atividade corrente - em especial PIB e produção industrial - possam vir a justificar corte maior, toda a comunicação recente do BC tem sido na direção de reafirmar a "parcimônia".
"Além do mais, como a parcimônia, citada no parágrafo 35 da ata do Copom, está atrelada às defasagens da política monetária (que se tornaria mais expansionista exatamente a partir de agora) é possível até mesmo que venha um corte 0,25 ponto percentual na próxima Selic", comenta Tâmega.
O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, reduziu em 0,50 ponto a projeção para a Selic de encerramento deste ano, de 8,5% para 8% por considerar: primeiro que o IBC-Br de março, divulgado há menos de duas semanas, ratificou o enfraquecimento da atividade econômica; segundo, porque a crise internacional está mais aguda com efeito de redução nos preços; e, terceiro, porque o governo está muito preocupado com o nível de atividade e não para de adotar medidas de estímulos - sejam fiscais ou de crédito por meio do Banco do Brasil e da C aixa Econômica Federal - o que indica um BC/Copom mais alinhado com política econômica do governo.
Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, reduziu os prognósticos para a Selic ao fim de 2012 e 2013 para, respectivamente, 7,5% e 9,5%, focando a piora do cenário internacional, ainda que a avaliação básica da consultoria não contemple a Grécia abandonando o euro.
Contribuíram para a revisão das projeções mais longas indicadores que já mostram atividade econômica fraca também no segundo trimestre. "Levamos em conta esses dados que colocam claramente a questão. Porque o BC não traria o juro mais para baixo como forma de incentivar a economia? Além disso, é fato que o BC trabalha com modelos de múltiplos equilíbrios. Levar o país a praticar um juro em patamar menor é promover um equilíbrio melhor", conclui.