A decepção dos investidores com o Banco Central Europeu (BCE) provocou um forte movimento de fuga do risco, que beneficiou os Treasuries em detrimento de ações, do euro e de contratos de commodities. Da mesma maneira que o Federal Reserve na quarta-feira, o BCE não lançou mão de nenhuma nova medida de afrouxamento monetário, como muitos investidores esperavam.
As ações foram vendidas, fazendo com que os principais índices de Wall Street fechassem em baixa pelo quarto dia consecutivo. O Dow Jones caiu 0,71%, o Nasdaq, 0,36%, e o S&P 500 fechou em baixa de 0,74%. Na Europa, as perdas foram ainda mais expressivas, com os bancos apresentando as maiores perdas.
"Os comentários de Draghi foram um banho de água fria para quem acreditava que o BCE fosse anunciar um programa de compra de bônus com o intuito de estancar a crise da zona do euro", disse em nota aos clientes a Capital Economics.
Em Londres, o FTSE 110 fechou em queda de 0,88%, aos 5.662,30 pontos. O movimento de baixa foi puxado pelos papéis dos bancos, com o Royal Bank of Scotland recuando 5,1%, e o Lloyds Banking Group caindo 4,2%.
Ontem o Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) também anunciou a manutenção da taxa básica de juros e o programa de compra de ativos, enquanto observa os desdobramentos do plano de crédito.
Em Paris, o CAC-40, recuou 2,68%, para 3.232,46 pontos. O DAX, de Frankfurt, perdeu 2,20%, para 6.606,09 pontos.
Mas as maiores depreciações foram registradas pelos índices da Itália e da Espanha, com o yield (rendimento) dos títulos soberanos dos dois países apresentando alta no mercado secundário.
Em Madri, o IBEX-35 registrou elevada desvalorização de 5,16%, para 6.373,40 pontos. As ações do Banco Popular perderam 7,9%, e as do Sabadell diminuíram 7,5%. Em Milão, o FTSE MIB, apresentou queda de 4,64%, para 13.282,55 pontos.
"Draghi errou um pouco ao prometer demais e entregar muito pouco", disse o estrategista de investimentos da Nortern Trust, Jim McDonald, destacando que não houve nada de mais específico na entrevista de Draghi sobre os planos para compras de bônus. "Essa ação do BCE hoje ilustra o fato de que eles não têm a capacidade para, com uma simples canetada, resolver seus problemas financeiros", acrescentou ele.
O desapontamento com o BCE abateu-se sobre o euro, que, depois de operar acima de US$ 1,24 pela primeira vez desde 6 de julho, atingiu a mínima em uma semana de US$ 1,2134. Na comparação com o iene, o movimento foi semelhante.
A crescente aversão dos investidores aos ativos de Itália e Espanha afetou outros segmentos além do mercado acionário.
Os juros dos títulos de dez anos dos dois países subiram fortemente no mercado secundário, com os papéis da Espanha voltando a rondar o patamar de 7%, considerado insustentável.
O custo dos contratos de derivativos para proteção contra calotes (CDS, na sigla em inglês) dos dois países dispararam.
No fim do dia, os CDS espanhóis terminaram com alta de 34,1 pontos-base em relação ao fechamento da quarta-feira, a 572,775 pontos, enquanto os italianos tiveram alta de 30,8 pontos-base, para 519,960 pontos.
"O mercado claramente não gosta do cenário de incerteza em que autoridades parecem estar ganhando mais e mais tempo, sendo que os comentários da semana passada sugeriam que um "acordo concreto" poderia ser apresentado hoje", disse Annalisa Piazza, da gestora Newedge.
A decepção com o BCE, somada à valorização do dólar, fez com que o petróleo negociado em Nova York recuasse 2%. "Até que haja mais clareza, os Treasuries serão a classe de ativo a ser escolhida", disse o gestor-sênior de portfólio de renda fixa da SEI Investments, Sean Simko. No fim da tarde em Nova York, o juro da T-note de 10 anos marcava 1,481%.