O crescente pessimismo quanto à situação financeira internacional levou o governo brasileiro a reduzir as metas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Saem de cena os propagados 4,5% e entra na órbita os 3%, mais próximos dos 2,99% previstos pelo mercado. Mas, diferentemente de outros momentos, o Brasil poderá ter dificuldades em criar outras medidas de estímulo. A degradação do cenário internacional, que inclui os BRICs (Brasil, Índia, Rússia, China e África do Sul), deixa os governantes em estado de perplexidade. “O cenário de janeiro foi revisado para baixo em março e tivemos que atualizá-lo novamente agora”, disse ao Correio uma fonte palaciana. “Temos que esperar o que acontecerá para decidirmos, pontualmente, os próximos passos” , confirmou um aliado da presidente.
Os Brics estagnaram. A China, que no auge da crise de 2009 ostentava índices de 11% de crescimento do PIB, anunciou há duas semanas que só crescerá 8,1% — há quem diga que esse percentual ficará pouco acima dos 7%. A Índia anunciou ontem um crescimento de apenas 5,3% e um decréscimo na produção industrial. Outro foco de crescimento mundial seriam os Estados Unidos. Mas a percepção é de que a economia americana só terá mudanças após as eleições presidenciais em novembro deste ano.
Na avaliação do economista Alcides Leite, da Trevisan Escola de Negócios, a crise global tende a se agravar e os países emergentes não serão a tábua de salvação, como ocorreu na hecatombe financeira de 2009, desencadeada pela quebra do banco norte-americano Lehmann Brothers em setembro de 2008. “A situação mundial está ruim. Os Estados Unidos crescem menos que o previsto, a Europa está parada e a Índia e a China vão crescer em ritmo menor que o esperado”, destacou Leite. Ele estima um crescimento de 3% este ano. A mesma opinião é compartilhada pelo economista sênior para América Latina da Economist Intelligence Unit, Robert Wood, que revisou a projeção para a expansão do Brasil de 3,3% para 3%. Para ele, será um grande desafio para o Brasil crescer 3% este ano, diante da escalada da crise na Zona do Euro.
Em meio a esses indícios, a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, estão revisando as metas de expansão desde a semana passada. As reuniões entre os dois têm sido constantes e, às vezes, mais de uma vez por dia. Dilma tem cobrado da equipe econômica formas para estimular a economia. Ela sabe que o governo precisará aumentar os investimentos públicos, porque as recentes medidas voltadas para estimular o consumo, e, consequentemente, o endividamento do brasileiro que paga um dos mais altos juros do mundo nos financiamentos, não serão suficientes para evitar o “pibinho” que ela teme.
O resultado do PIB no primeiro trimestre de 2012, que será divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), será decisivo para que essa revisão ocorra em breve e, com isso, fique alinhada com as projeções do mercado, em torno de 3%. Ano passado, o PIB brasileiro cresceu apenas 2,7%.
O Planalto espera a saída dada pelo Congresso para a medida provisória que estende às obras do PAC a mesma flexibilização no regime de licitações adotado nas obras para a Copa do Mundo. Se os deputados não aprovarem a medida, o governo encaminhará uma nova MP ao Congresso tratando exclusivamente do tema. “Precisamos destravar esse PAC. Ele é que vai garantir nosso crescimento”, disse um governista.
Com a taxa de investimento atual entre 18% e 19% do PIB, a economia brasileira não poderá crescer mais do 3,5%, na opinião de Alcides Leite. “Dada essa condição, acho até positivo que o crescimento mundial seja mais baixo mesmo, porque assim os preços das commodities caem e eles pressionam menos a inflação. Dessa forma, o Brasil poderá continuar baixando os juros, e, assim, aproveitar a economia dos custos da dívida (hoje 6% do PIB) e investir para estimular a economia”, completou, acrescentando que o governo está no caminho certo reduzindo os juros.
Na quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu, pela sétima vez consecutiva, a taxa básica de juros (Selic) em 0,50 ponto percentual para 8,50% ao ano. De acordo com o ranking mundial de juros reais da Cruzeiro do Sul Corretora, com a nova Selic, a taxa de juros real do Brasil descontada a projeção de inflação para este ano, é de 2,8%, a terceira mais alta do mundo.
“A situação mundial está ruim. Os Estados Unidos crescem menos que o previsto, a Europa está parada e a Índia e a China vão crescer em ritmo menor que o esperado”