O déficit em transações correntes com o exterior teve, no primeiro semestre do ano, um pequeno recuo se comparado a igual período de 2011, de US$ 26,03 bilhões para US$ 25,34 bilhões, mesmo diante de uma piora no desempenho da balança comercial. A receita perdida com a redução do superávit comercial foi mais do que compensada pela queda das remessas líquidas de lucros e dividendos ao exterior.
Mesmo num cenário de crise global, o déficit em conta corrente foi financiado com folga pelos investimentos estrangeiros diretos (IED). No semestre, o ingresso de investimentos foi de US$ 29,72 bilhões. Em junho especificamente, mês em que o saldo em transações correntes foi negativo em US$ 4,42 bilhões, entraram US$ 5,822 bilhões em IED, segundo dados do balanço de pagamentos divulgados ontem pelo Banco Central (BC).
Para julho, a expectativa do Banco Central é que isso se repita. Para um resultado negativo estimado em US$ 4,5 bilhões na conta de transações correntes, a autoridade monetária espera US$ 7 bilhões em investimentos, US$ 6,3 bilhões dos quais já foram confirmados até dia 20.
Como proporção do Produto Interno Bruto, o déficit corrente passou de 2,13% para 2,21%, ainda na comparação dos semestres, mantendo-se relativamente estável. O aumento foi consequência da desvalorização cambial, que fez encolher o valor em dólar do PIB brasileiro. Medido em 12 meses, o déficit encerrou junho em 2,16% do PIB.
A balança comercial deu, nesses seis primeiros meses de 2012, contribuição positiva. Mas a crise nas economias desenvolvidas torna os mercados internacionais desfavoráveis às exportações, por causa do baixo crescimento da demanda externa.
Assim, o saldo comercial foi, agora, bem menor do que o do primeiro semestre de 2011, passando de US$ 12,96 bilhões para US$ 7,069 bilhões. Enquanto as importações continuaram crescendo graças a ainda boa demanda interna da economia e a despeito da desvalorização da taxa de câmbio, as exportações recuaram.
Em contrapartida, as remessas líquidas de lucros e dividendos ao exterior caíram de US$ 18,768 bilhões para US$ 9,981 bilhões.
Essa queda decorreu em boa medida pelo aumento da renda sobre os investimentos brasileiros feitos no exterior. O país recebeu a título de lucros e dividendos US$ 4,029 bilhões no primeiro semestre do ano, ante US$ 690 milhões em igual período do ano passado.
O chefe adjunto do Departamento Econômico do Banco Central, Fernando Rocha, atribuiu essa elevação ao "amadurecimento dos investimentos brasileiros diretos [IBD] no exterior". Nos últimos anos, lembrou, as empresas brasileiras têm se internacionalizado, o que elevou o fluxo e, consequentemente, o estoque de IBD. Esses investimentos agora começam a dar retorno mais significativo. Ao fim de junho, a participação de brasileiros no capital de empresas sediadas no exterior era de US$ 225,134 bilhões.
Fernando Rocha acredita que a taxa de câmbio venha contribuindo para o aumento de lucros e dividendos do exterior para o Brasil. Com o dólar mais caro, fica mais atrativo para as empresas trazerem moeda estrangeira para o país.
Ao mesmo tempo, o dólar mais valorizado - desde março deste ano - desestimula as empresas multinacionais que operam no Brasil a remeter lucros às suas matrizes no exterior, pois os resultados são apurados em reais, que se desvalorizou. Evidência disso é que o valor bruto das remessas caiu de US$ 19,458 bilhões para US$ 14,011 bilhões na comparação dos primeiros seis meses de 2011 e de 2012, respectivamente. A desaceleração do crescimento interno também reduziu o resultado das empresas e, consequentemente, as remessas, assinalou o chefe adjunto do Depec.
As despesas com viagens internacionais, que tinham subido em 2011, ficaram praticamente estáveis na comparação entre o primeiro semestre deste ano e do ano passado. O déficit corrente como um todo só não recuou mais porque a queda das remessas de lucros e dividendos foi parcialmente neutralizada pela elevação de diversos itens da conta de serviços, entre eles aluguel de equipamentos.