Velhos assuntos mantiveram a aversão ao risco elevada nos mercados internacionais ontem. A Grécia voltou ao foco, especialmente após as agências de notícias divulgarem a declaração de uma fonte da União Europeia, de que os ministros de Finanças da região pretendem adiar "por semanas" a liberação da nova tranche de ajuda financeira à Grécia, de 31 bilhões de euros.
O abismo fiscal americano, tema que já era conhecido dos investidores há meses, mas foi solenemente ignorado até o fim das eleições nos EUA, começou a fazer estragos nas bolsas na quarta-feira. Ontem, entrou novamente no radar, ofuscando o clima positivo do início dos negócios, quando os investidores ainda digeriam indicadores melhores que o esperado.
O total de pedidos de seguro-desemprego nos EUA caiu 8 mil na semana passada. E o déficit comercial do país recuou em setembro para US$ 41,55 bilhões. O montante, o menor desde o fim de 2010, ficou abaixo dos US$ 45 bilhões previstos pelos analistas.
Em meados de setembro, analistas do Goldman Sachs haviam chamado a atenção de seus clientes que o "abismo" poderia chegar às bolsas. O estrategista-chefe do banco de investimentos, David Kostin, escreveu em relatório que o índice S&P500 deveria cair de forma acentuada após a eleição presidencial. Naquele momento, ele já alertava que, somente depois do pleito os investidores se dariam conta de que o abismo não seria resolvido sem turbulência.
Kostin argumentou que a maioria dos investidores espera que os políticos evitem o abismo fiscal antes do fim do mandato do atual Congresso. Contudo, o Goldman vê probabilidade de 30% de o Congresso falhar em lidar com a questão a tempo. O especialista estimou na época que o índice S&P 500 poderia cair cerca de 15% até o fim do ano, da casa dos 1.450 pontos para 1.250 pontos, e então se recuperar para ao redor dos 1.350 pontos em 12 meses.
Ontem, o índice fechou na metade desse caminho, em baixa de 1,22%, aos 1.377 pontos. O Dow Jones marcou o nível mais baixo desde julho, aos 12.811 pontos, com queda de 0,94%. E o Nasdaq recuou 1,42%, para 2.895 pontos.
A Bovespa acentuou as perdas no meio da tarde e perdeu o importante suporte gráfico dos 58.100 mil pontos, parando no suporte seguinte, de 57.500. Além do clima externo pesado, os investidores também se mostraram decepcionados com alguns balanços, especialmente do Banco do Brasil.
"O mercado lá fora chegou a iniciar o dia com humor positivo, após alguns indicadores, mas piorou depois da notícia da Grécia. A Bovespa acompanhou o movimento e desceu a ladeira", resume o analista da Icap Brasil, Illan Besen. O Ibovespa caiu 1,70%, para 57.524 pontos, com volume de R$ 6,684 bilhões. Na mínima do dia, bateu nos 57.420 pontos. Segundo o analista técnico da Icap Brasil, Raphael Figueredo, abaixo dos 58.100 pontos, o Ibovespa segue em tendência de baixa, com próxima parada nos 56.900 pontos.
Entre as ações mais negociadas, Vale PNA perdeu 2,03%, para R$ 36,06; Petrobras PN caiu 2,69%, para R$ 20,61; OGX ON marcou baixa de 0,20%, a R$ 4,77; e Itaú Unibanco PN recuou 2,23%, para R$ 29,80. Eletropaulo PN (-5,00%) liderou as baixas pelo segundo dia seguido, ainda sob efeito do balanço do terceiro trimestre. Também caíram novamente as elétricas Eletrobras PNB (-4,26%) e Cemig PN (-4,37%).
Mas quem mais chamou atenção foi Banco do Brasil ON (-4,45%). O BB também ficou entre as cinco mais negociadas, com giro de R$ 237 milhões. O banco estatal reportou lucro líquido de R$ 2,7 bilhões no terceiro trimestre, com queda de 5,6% em relação ao ano anterior. Analistas já esperavam tal desempenho e citaram a piora na rentabilidade do banco diante da forte campanha do governo por redução de juros e tarifas bancárias.
Na ponta positiva da bolsa ficaram Cetip ON (2,67%), LLX ON (2,52%) e Cosan ON (2,25%). A empresa de logística de Eike Batista conseguiu reduzir o prejuízo do terceiro trimestre em 34,8%, para R$ 5,2 milhões, enquanto a Cosan divulgou lucro quase quatro vezes maior no segundo trimestre fiscal, de R$ 283,2 milhões. O Bank of America Merrill Lynch elevou o preço-alvo das ações da companhia de açúcar e combustíveis, de R$ 39 para R$ 46.