Governo brasileiro condiciona participação no reforço de capital do FMI à ampliação da presença de países emergentes nas decisões do órgão
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, elevou o tom ontem e prometeu apresentar uma lista de exigências para que o Brasil entre no pacote de aumento de capital do Fundo Monetário Internacional (FMI) para socorrer países em crise, sobretudo os da Zona do Euro. Ele embarcará amanhã para Washington, Estados Unidos, com a missão de defender maior participação dos países emergentes tanto no FMI quanto no Banco Mundial. Mantega avisou que o Brasil só colocará mais recursos no fundo multilateral se forem levadas adiante as reformas anunciadas pelos países membros que dão mais poder ao mundo em desenvolvimento.
"O FMI está demorando a fazer as reformas que deem mais participação, mais poder de decisão aos países emergentes e está dando sinais de que não vai cumprir a agenda que nós (G-20) aprovamos na reunião de Seul", criticou. Um dos principais pleitos é a reavaliação da fórmula que serve de base para a distribuição das cotas (que representam o peso de voto dos países membros) do FMI. "Ela tem de permitir que países com maior presença na economia mundial tenham maior participação nas cotas. A fórmula tem de dar mais peso para o PIB (Produto Interno Bruto)", disse uma fonte do governo.
Mantega, que também participará de encontro com nas nações que integram o Brics (grupo que reúne, além do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e com os ministros do G-20 (grupo que agrega as 19 principais economias do mundo mais a União Europeia), disse que há uma "reticência" dos países europeus em cumprir as promessas. "Eles querem dinheiro, mas não querem levar as reformas adiante", criticou.
Em janeiro, o FMI propôs uma expansão de US$ 1 trilhão dos recursos destinados a socorrer os países europeus em crise. A proposta inicial era de que a Europa entrasse com metade disso e os países membros do FMI com a outra metade. Mas os europeus só se comprometeram com 150 bilhões de euros (US$ 1962, bilhões, a valores de hoje) e, agora, as economias que estão no FMI estão reavaliando o montante necessário. No entender da Fazenda, o FMI precisará de um reforço de capital entre US$ 300 bilhões e US$ 500 bilhões.
"O Brasil só colocará recursos adicionais caso haja participação forte dos europeus, caso eles tenham cumprido providências para tornar mais estável a economia europeia e se os recursos que vamos colocar no FMI se transformarem em participação acionária do Brasil. Eles têm de se transformar em cotas para o Brasil", ressaltou Mantega. Ele lembrou que, quando apoiou a atual diretora-geral do FMI, Christine Lagarde, ela se comprometeu a dar maior poder para os países emergentes dentro do banco, nas diretorias e nos escalões superiores. "Vamos ver também se os europeus estão cumprindo o seu papel de segurança para evitar que a crise se alastre para o resto do mundo", ressaltou.
Para o analista internacional Jason Vieira, da Cruzeiro do Sul Corretora, o discurso do ministro busca apenas reforçar a nova posição do Brasil no cenário econômico mundial. Mas as reuniões não deverão apresentar resultados concretos.
Perdas de
R$ 950 milhões
O governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, disse que o seu estado terá perdas de R$ 950 milhões por ano com a unificação da alíquota interestadual do ICMS nas importações. Colombo afirmou que há um impasse nas discussões com o governo. Embora o ministro da Fazenda, Guido Mantega, aceite mudanças na indexação da dívidas dos estados, ele está inflexível quanto ao prazo para que o novo índice, de 4%, entre em vigor. "A redução do prazo de transição é factível. O que não pode acontecer é não haver nenhuma regra de transição", afirmou.