Depois de sofrerem com o clima adverso e o real valorizado, os exportadores brasileiros de frutas frescas começaram a estancar parte das perdas acumuladas nos últimos anos. Ainda limitadas pela crise que atinge a Europa, o principal destino, as exportações nacionais agora contam com os estímulos do dólar mais forte e do clima favorável a culturas como melão e maçã para voltar a crescer, em volume, depois de quatro anos de quedas.
No primeiro semestre deste ano, as exportações brasileiras de frutas frescas chegaram a 271,2 mil toneladas, crescimento de 8,6% sobre as 249,6 mil toneladas embarcadas no mesmo intervalo do ano passado, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pelo Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf). Em receita, esses embarques renderam US$ 206,3 milhões, uma alta de 5,6% na mesma comparação.
Apesar da recuperação, o déficit da balança comercial de frutas frescas aumentou no primeiro semestre, impulsionado pelo avanço contínuo das importações. Nos primeiros seis meses do ano, o segmento acumulou um déficit de US$ 46,5 milhões, ante resultado negativo de US$ 30,1 milhões em igual período do ano passado. O resultado, contudo, deve se reverter no segundo semestre, quando as exportações de melão, uva e manga ganham fôlego.
O melhor desempenho das exportações no período é um claro resultado da melhor condição climáticas nas regiões produtoras de melão e maçã - os dois produtos responderam por 44,3% dos embarques de frutas frescas do país no período -, informou o gerente técnico do Ibraf, Cloves Ribeiro. "Com o clima propício e o dólar valorizado, a tendência é apresentar resultados melhores no fim do ano", prevê o especialista.
Principal item da pauta de exportações de frutas, os embarques de melão saltaram 49,5% no primeiro semestre ante o mesmo intervalo de 2011, para 53,1 mil toneladas. No primeiro trimestre do ano passado, os produtores do Rio Grande do Norte, principal polo de produção de melão do país, sofreram com o excesso de chuvas, que comprometeu a exportação da fruta na temporada 2010/11, que vai de agosto a maio.
Prejudicada pelo clima adverso nos últimos anos, as exportações também voltaram a subir no semestre. Entre janeiro e junho, os embarques da fruta na safra 2011/12, que se encerrou em abril, cresceram 38,7%, para 67,1 mil toneladas, segundo o Ibraf.
A despeito da retomada do crescimento dos volumes embarcados, o que não acontecia desde 2007, um ano antes da crise que derrubou as compras da Europa, Ribeiro não vê motivos para comemorar. "Há uma retomada aparente porque os outros anos foram muitos ruins. Mas estamos longe de compensar o prejuízo que tivemos", diz o gerente.
E recuperar o terreno perdido não será tão simples, diz Ribeiro. No ano passado, o Brasil exportou 681, 2 mil toneladas de frutas frescas, o menor nível desde 2002. "A demanda continua baixa, especialmente porque nosso principal mercado continua sendo o europeu", pondera. A União Europeia é responsável por 80% das exportações nacionais de frutas.
Para reduzir a dependência, os exportadores enfrentam o lento trabalho de ampliação de mercados como os do Oriente Médio e do Mercosul. "O mercado árabe é promissor, mas a distância e as dificuldades logísticas tornam o processo muito caro", afirma Ribeiro. Já os embarques para os países da América do Sul, ficam restritos à melancia e banana. "Não temos um mix de produtos para o Mercosul", diz.
Diante das dificuldades em abrir novas frentes, uma das opções tem sido destinar a produção para o mercado interno. Produzidas basicamente para a Europa até a eclosão da crise de 2008, as uvas sem semente do Vale do São Francisco encontram compradores no Brasil. "O aumento do poder aquisitivo da população aumentou o interesse para essas frutas", afirma Ribeiro.
A força do mercado doméstico, por sua vez, tem alavancado as importações de frutas frescas. Nos primeiros seis meses de 2011, o Brasil comprou 231,4 mil toneladas, alta de 4,1% sobre o mesmo intervalo do ano passado. Na mesma comparação, o Brasil gastou US$ 252,8 milhões com as importações, crescimento de 12,1%. "Precisamos importar frutas que não produzimos ou não temos oferta razoável", diz Ribeiro. São os casos de pera, cereja e ameixa.