Os mercados de câmbio e de juros no Brasil foram ontem influenciados diretamente pelo comportamento dos ativos no exterior, em sessão marcada pela volatilidade e que terminou com queda do dólar ante o real e o primeiro recuo das taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) em seis pregões.
O dólar operou em linha com o ambiente externo, subindo na primeira metade do dia para depois ceder a uma acomodação que também ocorria lá fora. Segundo profissionais, o fluxo cambial pela via comercial também contribuiu para o alívio da cotação no Brasil, uma vez que exportadores aproveitaram a disparada da divisa, que chegou a superar o nível de R$ 2,05 - máxima desde 24 de dezembro -, para internalizar recursos.
O dólar comercial fechou em queda de 0,20%, a R$ 2,046, oscilando entre mínima de R$ 2,044 (- 0,29%) e máxima de R$ 2,057 (+0,34%). O giro interbancário ficou ao redor de R$ 2,5 bilhões.
Segundo profissionais, o dólar à vista seguiu a acomodação dos preços no mercado internacional, que se sucede à forte correção provocada pelas declarações do presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, de que o programa de compra de títulos pode ser diminuído "nas próximas reuniões". Essa afirmação provocou a disparada do rendimento dos títulos do governo americano, os Treasuries, e ampliou a demanda pela moeda americana no mundo.
O mercado local de juros também seguiu as oscilações do rendimento dos títulos do governo americano. Depois de atravessarem a maior parte da sessão em alta, cuja intensidade era sempre maior entre os DIs de longo prazo, as taxas perderam fôlego no fim da sessão. Na BM&F, o DI para janeiro de 2014 cedeu levemente a 8,12% de 8,13% da véspera, mas o DI de janeiro de 2017 subiu a 9,30% de 9,29%.
Como as taxas dos DI longos na BM&F subiram e os contratos de curto prazo cederam, a diferença entre elas aumentou, ampliando a chamada inclinação da curva a termo. O degrau entre o DI de janeiro de 2017 e o DI de janeiro de 2014 passou de 1,16 ponto percentual para 1,19 ponto, tendo chegado, no momento de maior abertura entre as taxas a 1,27 ponto - a mais alta desde 8 de abril.
"Os juros no Brasil são uma função entre o juro básico no mundo e um prêmio de risco doméstico. Se o juro se mexe lá fora, aqui também é preciso haver uma correção", disse o diretor executivo do UBS Wealth Management, Francisco Levy. Para ele, embora esteja distante o momento em que o Fed vai, de fato, iniciar a subida de juros, o simples movimento dos Treasuries é capaz de provocar um rebalanceamento de carteiras globais.
Com o foco no ambiente externo dominado pela cautela, os eventos domésticos tiveram efeito marginal na decisão dos aplicadores, que receberam os dados do mercado de trabalho, apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo a Pesquisa Mensal do Emprego (PME), a taxa de desemprego atingiu 5,8% da população economicamente ativa (PEA) em abril, de 5,7% registrados em março - a mais baixa taxa para meses de abril desde o início da série histórica do IBGE, iniciada em março de 2002.
Apesar da atenção com o ambiente externo, a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na semana que vem não esteve totalmente fora do radar. Entre anteontem e ontem, cresceram as fichas nos contratos abertos na BM&F. O DI de julho de 2013 ganhou 710 mil posições.