O dólar comercial fechou a terça-feira em queda, colocando fim a uma sequência de seis altas consecutivas da moeda, a mais longa desde junho do ano passado. O fluxo positivo de capitais para o país no início do dia prevaleceu sobre a pressão de alta causada pelo renovado receio de investidores com a situação do Chipre e suas potenciais consequências para outros países em apuros econômicos na zona do euro.
A moeda americana caiu 0,10%, a R$ 1,987, após acumular ganho de 2,15% nos seis últimos pregões até ontem. Na máxima do dia, a divisa voltou a atingir a marca de R$ 1,99, mas não teve força para se manter nesse patamar ou para representar ameaça real ao teto de R$ 2 da banda cambial informal do Banco Central.
Segundo operadores, durante a manhã, duas grandes empresas brasileiras promoveram ingressos de recursos suficientes para colocar o dólar nas mínimas do dia. Rumores que o Itaú Unibanco prepara operação para internalizar parte dos US$ 5 bilhões captados pelo banco no exterior ao longo de 2012 também ajudaram a derrubar o dólar. Em sua última emissão externa, o banco captou US$ 1,87 bilhão em notas subordinadas. Procurado, o Itaú informou que não comentaria o tema.
O cenário externo, porém, quase fez o dólar virar. Minutos antes do fechamento do mercado à vista, a notícia de que o parlamento do Chipre havia rejeitado as exigências do Eurogrupo para liberar um pacote de ajuda ao país azedou o humor de investidores. No Brasil, isso sustentou uma redução da baixa do dólar, que chegou a zerar perdas, mas sem forças para subir. Uma nota do Banco Central Europeu dizendo que vai garantir a liquidez do sistema bancário cipriota, porém, aliviou a tensão com o Chipre e, consequentemente, a pressão de alta no câmbio local.
"Enquanto essa situação não for resolvida, qualquer pressão de baixa sobre o dólar pode ter vida curta", disse o gestor de renda fixa e câmbio da Appia Capital, Jorge Knauer. Segundo ele, outro elemento que pode dar força ao dólar no curto e médio prazos é a discussão sobre uma estratégia de saída dos atuais estímulos monetários pelo Federal Reserve.
Hoje termina a reunião de dois dias de política monetária do Fed, e o mercado aguarda sinalizações sobre os estímulos no comunicado da decisão do BC americano. Investidores também acompanharão atentamente o discurso do presidente da instituição, Ben Bernanke, que fala após o encontro.
No mercado de juros, as taxas caíram acompanhando a piora do humor externo, principalmente no fim da manhã. Os contratos de Depósito Interfinanceiro mais longos registraram as maiores baixas.
"Com a preocupação dos mercados globais com o Chipre, as notícias internas perdem relevância", disse um operador.
Ainda assim, o noticiário local favoreceu a queda dos DIs, particularmente dados divulgados ontem indicando alívio no ritmo de alta dos preços. A coleta diária de preços da FGV apontou recuo dos alimentos na ponta, de 1,41% para 1,33%. Já o IPC-S da segunda semana de março, calculado pela Fipe, indicou deflação de 0,11% ante alta de 0,06% na leitura anterior.